Alerta sobre a Influenza A (gripe)

Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF) – Rafael Bombein (CREF 016866/SP) 19/05/2025

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Divulgada 15 maio de 2025 a nova edição do Boletim InfoGripe da Fiocruz faz uma alerta sobre a influenza A, que já se tornou a principal causa de mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em idosos e uma das três principais causas de óbitos por SRAG entre as crianças. O cenário também aponta aumento nas hospitalizações por influenza A em diversas partes do país, com níveis moderados a altos de incidência em vários estados do Centro-Sul, além de alguns do Norte e Nordeste. A atualização é referente à Semana Epidemiológica 19, período de 4 a 10 de maio. 

A análise continua observando um crescimento do número de casos de SRAG em crianças pequenas associado ao VSR. No entanto, em alguns estados, principalmente das regiões Centro-Oeste e Sudeste, o aumento apresenta sinais de desaceleração ou até de reversão. “Apesar disso, ainda não é o momento de relaxar os cuidados nessas regiões, já que a incidência de casos continua alta ou moderada”, ressalta a pesquisadora Dra. Tatiana Portella, do Programa de Computação Científica da Fiocruz e do InfoGripe.

A especialista chama a atenção que a mortalidade por SRAG nas crianças pequenas se aproxima daquela observada nos idosos. A principal causa de mortalidade por SRAG nos idosos é o vírus da influenza A, seguida pela Covid-19. Já nas crianças pequenas, o VSR permanece como a principal causa de mortalidade por SRAG, seguido pelo rinovírus e pela influenza A.

Diante desse quadro, Dra. Portella orienta que todas as pessoas dos grupos mais vulneráveis se vacinem contra o vírus da influenza “o quanto antes”. Os pesquisadores do InfoGripe reforçam que a vacina é a ação mais eficaz para prevenir hospitalizações e mortes causadas pela doença. “Além disso, reforçamos a importância do uso de máscaras em unidades de saúde, locais com maior aglomeração de pessoas e, principalmente, em caso de aparecimento de sintomas de gripe ou resfriado”, afirma a pesquisadora.

A influenza ou gripe é uma infecção respiratória aguda, causada pelos vírus influenza A, B, C ou D; os vírus influenza A e B são responsáveis por epidemias sazonais e o vírus influenza A está estreitamente associado a eventos pandêmicos, como o ocorrido em 2009 com a pandemia de Influenza A (H1N1). O vírus influenza C não causa doença de importância epidemiológica e o vírus influenza D foi recentemente identificado em bovinos.

Os vírus influenza apresentam um comportamento sazonal, de ocorrência anual, podem ser mais observados nas estações climáticas mais frias e/ou chuvosas. A incidência de casos pode variar anualmente, observando-se anos com maior ou menor circulação do vírus, porém podem ser identificados o ano todo, com ocorrência de surtos fora dos períodos sazonais.

No Brasil, o padrão de sazonalidade varia entre as regiões, sendo mais marcado naquelas com estações climáticas bem definidas, nas quais a maior frequência ocorre nos meses mais frios, em locais de clima temperado, com isso, espera-se aumento de casos no outono e inverno, porém pode haver circulação em outras épocas do ano, devido às divergências demográficas e climáticas.

MODO DE TRANSMISSÃO

A transmissão direta (pessoa a pessoa) é a mais comum e ocorre quando um indivíduo infectado pelo vírus influenza expele gotículas ao falar, espirrar e tossir. Essas gotículas podem pousar na boca ou nariz de pessoas próximas, ou ser possivelmente inaladas nos pulmões. Eventualmente, pode ocorrer a transmissão pelo ar, quando partículas residuais, que podem ser levadas a distâncias maiores que 1 metro, são inaladas.

Também há evidências de transmissão pelo modo indireto, por meio do contato com as secreções de outros doentes. Nesse caso, as mãos são o principal veículo, quando uma pessoa toca uma superfície ou objeto contaminado com o vírus influenza e depois toca sua própria boca, nariz ou olhos.

 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Os sinais e sintomas podem ser desde quadros leves, chamados de síndrome gripal (SG), e alguns casos podem evoluir para complicações e agravamento, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Classicamente o quadro clínico da influenza sazonal tem início súbito, com sintomas de Síndrome Gripal (SG) como febre, coriza, tosse seca, dor de garganta, dores musculares e articulares, dor de cabeça, fadiga (cansaço) e prostração. Geralmente, tem resolução espontânea em aproximadamente sete dias, embora a tosse, o mal-estar e a fadiga possam permanecer por algumas semanas.

Em crianças com menos de 2 anos, considera-se também como caso de SG: febre de início súbito (mesmo que referida) e sintomas respiratórios (tosse, coriza e obstrução nasal), na ausência de outro diagnóstico específico. Algumas pessoas podem ter vômitos e diarreia, embora isso seja mais comum em crianças do que em adultos.

DIAGNÓSTICO

Diagnóstico Clínico

O quadro clínico inicial da doença é caracterizado como SG. O diagnóstico depende da investigação clínico-epidemiológica e do exame físico.

Diagnóstico Laboratorial

A amostra clínica preferencial é a secreção da nasofaringe (SNF). O diagnóstico laboratorial para pesquisa de vírus da influenza é um dos componentes da vigilância de influenza, a qual se baseia nas estratégias de vigilância sentinela de SG, SRAG hospitalizado e óbito por SRAG, sendo o RT-PCR em tempo real o diagnóstico padrão-ouro para estas estratégias de vigilância.

Complicações

Alguns casos de influenza podem evoluir e apresentar complicações, especialmente em indivíduos com doença crônica, idosos e crianças menores de 5 anos, o que acarreta elevados níveis de morbimortalidade.

A principal complicação é a pneumonia, responsável por inúmeras internações hospitalares. Outras complicações são:

  • Sinusite;
  • Otite;
  • Desidratação;
  • Agravamento das condições médicas crônicas.

TRATAMENTO

O uso do antiviral está indicado para todos os casos de SRAG e casos de SG associados com condições ou fatores de risco para complicações, devendo ser priorizadas para o tratamento precoce:

  • Gestantes em qualquer idade gestacional;
  • Puérperas (é o período após o parto até que o organismo da mulher volte às condições normais) até duas semanas após o parto;
  • Adultos ≥60 anos;
  • Crianças <5 anos (sendo que o maior risco de hospitalização é em menores de 2 anos, especialmente as menores de 6 meses com maior taxa de mortalidade);
  • População indígena aldeada ou com dificuldade de acesso;
  • Indivíduos menores de 19 anos em uso prolongado de ácido acetilsalicílico (risco de síndrome de leve);
  • Indivíduos que apresentem pneumopatias (incluindo asma);
  • Pacientes com tuberculose de todas as formas;
  • Cardiovasculopatias (excluindo hipertensão arterial sistêmica);
  • Nefropatias (lesão ou doença do rim);
  • Hepatopatias (conjunto de doenças que afetam o fígado);
  • Doenças hematológicas (incluindo anemia falciforme);
  • Distúrbios metabólicos (incluindo diabetes mellitus);
  • Transtornos neurológicos e do desenvolvimento que podem comprometer a função respiratória ou aumentar o risco de aspiração;
  • Disfunção cognitiva, lesão medular, epilepsia, paralisia cerebral;
  • Síndrome de down, acidente vascular encefálico (AVE) ou doenças neuromusculares;
  • Imunossupressão associada a medicamentos, (corticoide – >20 mg/dia, prednisona por mais de duas semanas, quimioterápicos, inibidores de TNFalfa) neoplasias, HIV/aids ou outros;
  • Obesidade (especialmente aqueles com índice de massa corporal – IMC ≥40 em adultos).

Considerando que a manifestação de sintomas iniciais da covid-19 tende a ser muito semelhante à de um quadro de influenza (gripe), é importante ressaltar que o medicamento fosfato de oseltamivir não está indicado para o tratamento de SARS-COV-2.

MEDIDAS DE PREVENÇÃO

Para reduzir/prevenir a transmissão do vírus influenza também deve-se fazer o uso de medidas de prevenção e controle não farmacológicas, como:

  • Distanciamento físico;
  • Etiqueta respiratória;
  • Uso de máscaras;
  • Limpeza e desinfecção de ambientes;
  • Higienização das mãos com água e sabão ou com álcool gel – principalmente após tossir ou espirrar, usar o banheiro, antes de comer, antes e após tocar os olhos, a boca e o nariz;
  • Evitar tocar os olhos, nariz ou boca, após contato com superfícies potencialmente contaminadas (corrimãos, bancos, maçanetas, etc.);
  • Manter hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, ingestão de líquidos e atividade física.

Pessoas com síndrome gripal devem evitar contato direto com outras pessoas, abstendo-se de suas atividades de trabalho, estudo, sociais ou aglomerações e ambientes coletivos.

VACINAÇÃO

A estratégia de vacinação no país pretende reduzir as complicações, as internações e a mortalidade decorrentes das infecções pelo vírus da influenza nos grupos com predisposição para complicações da doença. 

VACINAÇÃO CONTRA A INFLUENZA 2025; para saber sobre o calendário de vacinação contra Influenza na cidade de São Paulo clique no link abaixo; 

https://capital.sp.gov.br/web/saude/w/vigilancia_em_saude/vacinacao/influenza2025

INFLUENZA AVIÁRIA

A Influenza Aviária (IA), também conhecida como gripe aviária, é uma doença infecciosa, causada pelos vírus influenza, que pode infectar aves, mamíferos e, ocasionalmente, humanos. Embora o vírus da IA não infecte facilmente os humanos, existe o risco de ocorrência esporádica de casos humanos quando há exposição a aves infectadas ou ambientes contaminados durante a circulação do vírus entre as aves.

MODO DE TRANSMISSÃO

As aves, quando infectadas, podem disseminar o vírus da influenza aviária através da saliva, secreções de mucosas e excretas. A infecção humana dar-se-á tanto pelo contato direto ou pelo contato com superfícies contaminadas por aves infectadas e depois tocando seus próprios olho, boca ou nariz.

ORIENTAÇÕES PARA A VIGILÂNCIA DE IA EM HUMANOS

Em áreas onde ocorrer a transmissão da Influenza Aviária (IA) em aves, é importante que as unidades de vigilância estejam alerta ao potencial risco de infecção em humanos expostos a esses animais. Portanto, diante de casos prováveis ou confirmados de IA em aves identificadas pelo Serviço Veterinário Oficial, é recomendado que as equipes de vigilância em saúde realizem as ações de investigação epidemiológica ampla com a identificação de casos expostos, bem como a identificação de eventos respiratórios incomuns que possam sinalizar a transmissão de pessoa a pessoa.

Referencias
https://fiocruz.br/noticia/2025/05/infogripe-influenza-se-torna-principal-causa-de-mortalidade-por-srag-em-idosos
https://capital.sp.gov.br/web/saude/w/vigilancia_em_saude/doencas_e_agravos/influenza#saibamais


Para saber mais
Fiocruz; Pesquisadora do InfoGripe, Procc/Fiocruz, Dra.Tatiana Portella traz dados sobre o boletim e comenta a situação epidemiológica do país; 15 maio 2025;


Drauzio Varella; por que a gripe pode ser tão perigosa; 7 de abril de 2025;


Drauzio Varella; especialista responde 6 perguntas sobre a gripe; 25 de abril de 2025;


Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF); diferença entre gripe e resfriado; 09 de junho de 2024;