Como está a sua Polifarmácia?

Artigo escrito por Rafael Bombein (CREF – 016866/SP)  | Ilustração: Ricardo C.Pretel

A polifarmácia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o uso rotineiro e concomitante de quatro ou mais medicamentos (com ou sem prescrição médica) por um paciente. 

Em muitos casos a polifarmácia é necessária para que todas as condições clínicas do paciente recebam tratamento adequado. Contudo, seu potencial de causar danos ao paciente fez com que ela fosse destacada com uma das três categorias prioritárias do Terceiro Desafio Global de Segurança do Paciente que tem como tema “Medicação sem danos”, e é preciso envolvimento de todos (profissionais e pacientes) para prevenir possíveis erros de medicação associados a polifarmácia.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, entende-se que há uso racional de medicamento quando pacientes recebem medicamentos para suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. 

O uso irracional ou inadequado de medicamentos é um dos maiores problemas em nível mundial. A OMS estima que mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ​​ou vendidos de forma inadequada, e que metade de todos os pacientes não os utiliza corretamente.

Os eventos adversos a medicamentos, que podem ocorrer tanto por reações adversas quanto por interações medicamentosas, têm a polifarmácia como protagonista, uma vez que, quanto maior é o número de medicamentos utilizados, maior é o risco de eventos adversos. 

Esse risco é maior entre pacientes idosos, devido a diversas alterações decorrentes da idade, como diminuição da função renal e hepática, redução da audição, visão, cognição e mobilidade, além de menor massa corporal magra. Portanto, esses pacientes são mais vulneráveis a alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas, estando mais sensíveis à farmacoterapia; apesar de os idosos terem maior risco a polifarmácia, estão longe de serem os únicos. 

REDUZINDO A POLIFARMÁCIA

  • Mantenha uma lista atualizada de todos os medicamentos receitados

É fácil nos esquecermos daquilo que tomamos, especialmente quando a lista é longa. Além disso, muitos remédios têm nomes parecidos e muitas vezes difíceis, o que dificulta ainda mais essa tarefa.

Então, a dica é sempre deixar todas as receitas em um só lugar — utilizar uma pasta é uma ótima ideia! — ou anotar o nome e a concentração dos fármacos em um caderninho. Mantenha um registro dessas coisas!

  • Em caso de novas consultas, leve sempre as receitas anteriores

Quando você for visitar um novo médico, não deixe de levar consigo as receitas ou as anotações feitas por você anteriormente.

Mesmo que a consulta seja de outra especialidade ou apenas para a resolução de um sintoma específico, esse tipo de atitude ajuda o próximo profissional a escolher uma medicação segura para o seu caso.

  • Peça sempre uma avaliação profissional dos medicamentos que você deve continuar consumindo

Está tomando os mesmos remédios já há algum tempo? Então, pode ser a hora de fazer uma revisão desses compostos.

Agende uma consulta com o profissional responsável pelo seu acompanhamento e peça para ele verificar se você ainda precisa fazer uso daquela quantidade de fármacos.

  • Realize check-ups frequentes

Aproveitando a dica anterior, outra forma de evitar que a polifarmácia se torne parte do seu dia a dia é investir em check-ups frequentes. Fazer exames básicos com frequência pode fazer com que problemas sejam diagnosticados mais precocemente, mas também ajuda a identificar quando um tipo de remédio não é mais necessário.

Sendo assim, confirme com o seu médico qual é a periodicidade perfeita para os seus check-ups e siga a orientação desse profissional.

  • Procure entender o objetivo de cada medicamento que você faz uso

Conhecer os fármacos que você está ingerindo é muito importante, mesmo que você não se lembre o nome da fórmula de cada um deles.

Não se esqueça de que é a sua saúde que está em jogo. Então, é preciso que você participe ativamente das decisões tomadas, sempre respeitando o conhecimento do profissional que está prescrevendo.

  • Informe o seu médico se tiver algum efeito adverso

Efeitos adversos vêm em muitas formas. Alguns são mais perceptíveis, como tonturas ou a sensação de mal-estar logo após ingerir um remédio, enquanto outros aparecem de forma sutil. 

Uma boa dica é manter uma espécie de diário para anotar como você se sentiu ao longo do dia. Assim, você consegue observar padrões e pode mostrar ao seu médico, que também conseguirá identificar que algo está errado.

  • Não pare ou comece nenhum medicamento sem acompanhamento médico

Quando os efeitos colaterais são perceptíveis, é comum que a gente queira interromper o uso do medicamento o quanto antes ou, até mesmo, utilizar outros fármacos para melhorar o sintoma que apareceu.

Evite esse tipo de comportamento, já que ele pode fazer mais mal do que bem. Entre em contato com o seu médico ou agende uma consulta em outra unidade de saúde para discutir o assunto com um profissional o quanto antes.

  • Tenha uma alimentação saudável

Evitar a polifarmácia nem sempre é fácil, mas com alguns bons hábitos no dia a dia, isso se torna um pouco menos complexo. Para começar, vamos dar uma dica importante: tenha uma alimentação saudável.

Uma dieta equilibrada e cheia de nutrientes pode ser a chave para uma vida saudável, ajudando você a ficar longe de alguns remédios por algum tempo.

  • Beba bastante água

A hidratação também é essencial para a vida, já que é por meio da água que as reações do nosso corpo podem ser feitas da maneira adequada.

O indicado é tomar pequenos goles de água ao longo do dia, a fim de otimizar a sua absorção. 

  • Faça exercícios físicos

A prática regular de atividades físicas também é um grande remédio natural. E o melhor: você pode escolher o sabor que mais gostar! Não importa se a sua praia é a dança, a caminhada ou a academia. 

Lembrando que é preciso que você respeite os seus limites e que, em alguns casos, os exercícios físicos também precisam de prescrição médica. Converse com um profissional sobre o assunto.

IMPORTANTE!

O uso excessivo, indevido ou o sub uso de medicamentos resulta em riscos para a saúde, além de desperdício de recursos financeiros.


Referencias
https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/sectics/daf/uso-racional-de-medicamentos
World Health Organization. Medication Without Harm – Global Patient Safety Challenge on Medication Safety. Geneva: World Health Organization, 2017.
Masnoon N, Shakib S, Kalisch-Ellett L, Caughey GE. What is polypharmacy? A systematic review of definitions. BMC Geriatr 2017; 17(1):230.
dam UT. Potential health impacts of multiple drug prescribing for older people: a case-control study. J R Coll Gen Pract 2011; 61(583):128-130.
Mortazavi SS, Shati M, Keshtkar A, Malakouti SK, Basargan M, Assari S. Defining polypharmacy in the elderly: a systematic review protocol. BMJ Open 2016; 6(3):e010989.
Lim LM, McStea M, Chung WW, Azmi NN, Aziz SAA, Alwi S, Kamarulzaman A, Kamaruzzaman SB, Chua SS, Rajasuriar R. Prevalence, risk factors and health outcomes associated with polypharmacy among urban community-dwelling older adults in multiethnic Malaysia. Plos One 2017; 12(3).
Para saber mais
Acesse o vídeo da Dra. Ana Escobar; professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 19 de agosto de 2023.
https://www.youtube.com/watch?v=L0eLBlfCflI