Conhecendo mais o Chikungunya

Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF) – Rafael Bombein (CREF 016866/SP) – 24/03/2024

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O Chikungunya é uma arbovirose cujo agente etiológico é transmitido pela picada de fêmeas infectadas do gênero Aedes. No Brasil, até o momento, o vetor envolvido na transmissão do vírus Chikungunya (CHIKV) é o Aedes aegypti. O vírus Chikungunya (CHIKV) foi introduzido no continente americano em 2013 e ocasionou uma importante epidemia em diversos países da América Central e ilhas do Caribe. No segundo semestre de 2014, o Brasil confirmou, por métodos laboratoriais, a presença da doença nos estados do Amapá e Bahia. Atualmente, todas os Estados registram transmissão desse arbovírus.

No ano de 2023 ocorreu importante dispersão territorial do vírus no Brasil, principalmente para estados da Região Sudeste. Anteriormente, as maiores incidências de Chikungunya observadas no Brasil, concentravam-se na região Nordeste. As principais características clínicas da infecção por Chikungunya são edema e dor articular incapacitante. Também podem ocorrer manifestações extra articulares. Os casos graves de Chikungunya podem demandar internação hospitalar e evoluir para óbito.

SINTOMAS DO CHIKUNGUNYA

  • Febre
  • Dores intensas nas articulações
  • Edema nas articulações (geralmente as mesmas afetadas pela dor intensa)
  • Dor nas costas
  • Dores musculares
  • Manchas vermelhas pelo corpo
  • Prurido (coceira) na pele, que pode ser generalizada, ou localizada apenas nas palmas das mãos e plantas dos pés
  • Dor de cabeça
  • Dor atrás dos olhos
  • Conjuntivite não-purulenta
  • Náuseas e vômitos
  • Dor de garganta
  • Calafrios
  • Diarreia e/ou dor abdominal (manifestações do trato gastrointestinal são mais presentes em crianças)

EVOLUÇÃO DA DOENÇA

O Chikungunya pode evoluir em três fases;

  • FEBRIL OU AGUDA: tem duração de 5 a 14 dias
  • PÓS-AGUDA: tem um curso de 15 a 90 dias
  • CRÔNICA: Se os sintomas persistirem por mais de 90 dias após o início dos sintomas, considera-se instalada a fase crônica. Em mais de 50% dos casos, a artralgia (dor nas articulações) torna-se crônica, podendo persistir por anos.

ATENÇÃO!

É possível que se desenvolva manifestações extra articulares, ou sistêmicas: no sistema nervoso, cardiovascular, pele, rins e outros.

Sistema/órgão Manifestações
Nervoso Irritabilidade, tontura, convulsões, cefaleia intensa e persistente e déficit de força muscular.
Olhos Neurite óptica, iridociclite, episclerite, retinite e uveíte.
Pulmonar Desconforto respiratório, pneumonia, insuficiência respiratória.
Cardiovascular Dor torácica, palpitação, arritmia, hipotensão postural, miocardite, pericardite, insuficiência cardíaca, e instabilidade hemodinâmica
Pele Hiperpigmentação por fotossensibilidade, dermatoses vesiculobolhosas e ulcerações aftosa-like.
Rins Redução da diurese ou elevação abrupta de ureia e creatinina, nefrite e insuficiência renal aguda.
Gastrintestinal Vômitos persistentes, ascite, sangramentos e icterícia
Comorbidades Descompensação de comorbidades subjacentes.
Outros Hepatite, pancreatite, síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético e insuficiência adrenal.

Fonte: Adaptado de Rajapakse, S. e Rodrigo, C. e Rajapakse, A. (2010)

TRANSMISSÃO VERTICAL

Casos de transmissão vertical do CHIKV podem ocorrer quase que exclusivamente no intraparto de gestantes virêmicas e quando ocorrem, provocam infecção neonatal grave.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do Chikungunya tem componentes clínicos e laboratoriais, e deve ser feito por um médico. Todos os exames laboratoriais para acompanhamento do quadro clínico e os testes diagnósticos (sorológicos e moleculares) estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

Em caso de suspeitada doença a notificação deve ser realizada, e digitada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Online) em até 7 dias. Em caso de óbitos, a notificação deve ser feita ao Ministério da Saúde em até 24 horas.

CASO SUSPEITO

Indivíduo que apresentar febre de início súbito, acompanhada de artralgia ou artrite intensa (dor nas articulações) de início agudo, não explicado por outras condições, residente em (ou que tenha visitado) áreas com transmissão até duas semanas antes de começar os sintomas, ou que tenha vínculo epidemiológico com caso confirmado.

CASO CONFIRMADO

Caso confirmado é todo caso suspeito que foi confirmado por critério laboratorial, ou clínico-epidemiológico. O caso confirmado por critério laboratorial é aquele que obteve resultado laboratorial positivo, por isolamento viral, ou, detecção de RNA viral por RT-PCR (em amostra coletada até o 8º dia de início dos sintomas) ou detecção de anticorpos IgM em uma única amostra de soro durante a fase aguda (a partir do 6º dia de início dos sintomas), ou convalescente (15 dias após o início dos sintomas), demonstração de soro conversão entre as amostras na fase aguda (1a amostra) e convalescente (2a amostra) ou detecção de anticorpos IgG (exames de anticorpos) em amostras coletadas de pacientes na fase crônica da doença, com clínica sugestiva. O caso confirmado por critério clínico epidemiológico é aquele que atende a definição de caso suspeito, e que tenha vínculo familiar, ou espaço-temporal (vínculo epidemiológico) com caso confirmado laboratorialmente.

TRATAMENTO

O tratamento do Chikungunya é feito de acordo com os sintomas. Até o momento, não há tratamento antiviral específico para a doença. A terapia utilizada é analgesia e suporte. 

É necessário estimular a hidratação oral dos pacientes e a escolha dos medicamentos devem ser realizadas após a avaliação do quadro clínico do paciente, com aplicação de escalas de dor apropriadas para cada idade e fase da doença.

Em casos de comprometimento musculoesquelético importante, e sob avaliação médica conforme cada caso, pode ser recomendada a fisioterapia.

Referencias

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/chikungunya

Rajapakse S, Rodrigo C, Rajapakse A. Atypical manifestations of chikungunya infection. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2010 Feb

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/chikungunya_manejo_clinico.pdf

Para saber mais

Vídeo – Nesse vídeo a Dr.a Ana Escobar fala sobre os sinais e os sintomas do Chikungunya; 3 de mai. de 2022.