Conhecendo mais o Zika Virus

Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF) – Rafael Bombein (CREF 016866/SP) – 25/02/2024

As arboviroses são um grupo de doenças virais que são transmitidas principalmente por artrópodes, como mosquitos e carrapatos. A palavra “arbovirose” deriva de “arbovírus”, que significa “vírus transmitido por artrópodes”. Essas enfermidades podem causar uma variedade de sintomas, desde febre leve até complicações mais sérias, sendo algumas delas potencialmente fatais. Os principais vetores das arboviroses são os mosquitos, em particular, os gêneros Aedes, Culex e Anopheles. Esses insetos se tornam portadores do vírus ao picar uma pessoa infectada e, subsequentemente, passam o vírus para outras pessoas durante suas picadas.

Dentre as arboviroses mais conhecidas, destacam-se a dengue, vírus Zika (ZIKV), chikungunya e febre amarela; nesse artigo iremos conhecer mais sobe o vírus da Zika.

A maioria das infecções pelo ZIKV são assintomáticas ou representam uma doença febril autolimitada semelhante às infecções por chikungunya e dengue. Entretanto, a associação da infecção viral com complicações neurológicas como microcefalia congênita e síndrome de Guillain-Barré (SGB) foi demonstrada por estudos realizados durante surtos da doença no Brasil e na Polinésia Francesa.

ATENÇÃO!

Todos os sexos e faixas etárias são igualmente suscetíveis ao vírus Zika, porém mulheres grávidas e pessoas acima de 60 anos têm maiores riscos de desenvolver complicações da doença. Esses riscos podem aumentar quando a pessoa tem alguma comorbidade.

SINAIS E SINTOMAS

A infecção pelo vírus Zika pode ser assintomática ou sintomática. Quando sintomática, pode apresentar quadro clínico variável, desde manifestações brandas e autolimitadas até complicações neurológicas e malformações congênitas. Estudos recentes indicam que mais de 50% dos pacientes infectados por Zika tornam-se sintomáticos. O período de incubação da doença varia de 2 a 7 dias. 

MANIFESTAÇÕES MAIS COMUNS

  • Febre baixa (menor ou igual a 38,5 ºC) ou ausente;
  • Exantema (geralmente pruriginoso e maculopapular craniocaudal) de início precoce;
  • Conjuntivite não purulenta (sem infecção);
  • Cefaleia, artralgia, astenia e mialgia;
  • Edema periarticular, linfonodomegalia (aumento excessivo dos linfonodos, que são pequenas estruturas que funcionam como filtros para substâncias nocivas no organismo). 

Além da manifestação clínica exantemática febril leve da infecção pelo ZIKV, o prurido é um sintoma importante durante o período agudo, podendo afetar as atividades cotidianas e o sono. Duas complicações neurológicas graves relacionadas ao ZIKV foram identificadas: Síndrome de Guillan-Barré (SGB), uma condição rara em que o sistema imunológico de uma pessoa ataca os nervos periféricos, e a Microcefalia, que é a manifestação mais grave de um espectro de defeitos congênitos. Gestantes infectadas podem transmitir o vírus ao feto e essa forma de transmissão da infecção pode resultar em aborto espontâneo, óbito fetal ou malformações congênitas, como a microcefalia. Deve-se ficar atento para o aparecimento de outros quadros neurológicos, tais como, encefalites, mielites e neurite óptica, entre outros.

SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA VÍRUS

A gestante infectada, sintomática ou assintomática, pode transmitir o vírus para o feto durante todo o período gestacional, oportunizando a manifestação de diversas anomalias congênitas – sobretudo a microcefalia -, alterações do Sistema Nervoso Central e outras complicações neurológicas que, em conjunto, constituem a Síndrome Congênita do vírus Zika (SCZ). As crianças com SCZ tendem a ter uma ampla gama de deficiências intelectuais, físicas e sensoriais, que duram a vida toda.

No ano de 2015, em decorrência do aumento de nascimentos com microcefalia e sua associação com a infecção pelo vírus Zika, foi declarado no Brasil o estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN). Para qualificar a assistência as crianças durante o período da emergência, foi estabelecida no país a vigilância da Síndrome Congênita do Vírus Zika (SCZ) e de outras etiologias infecciosas como Sífilis, Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes Simplex (STORCH). Essa vigilância possui como propósito a identificação de complicações relacionadas à infecção pelo vírus Zika e outras etiologias no pré-natal, parto, pós-parto e puericultura nos primeiros anos de vida, bem como fornecer informações atualizadas de modo a guiar políticas para promoção do cuidado adequado às crianças com alterações no crescimento e no desenvolvimento, independentemente da etiologia.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do Zika Vírus é clínico e feito por um médico. O resultado é confirmado por meio de exames laboratoriais de sorologia e biologia molecular. Todos os exames estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Os recém-nascidos com suspeita de comprometimento neurológico necessitam de exames de imagem, como ultrassom. Tomografias ou ressonância magnética. Em caso de confirmação do Zika a notificação deve ser ao Ministério da Saúde em até 24 horas. 

Em razão da semelhança entre alguns sinais e sintomas da infecção pelo ZIKV com a dengue e chikungunya, recomenda-se, em caso de a suspeita inicial ser Zika, que a testagem seja iniciada por métodos diretos. Amostras de urina podem ser utilizadas para confirmar a infecção viral até o 15° dia do início dos sintomas.

TRATAMENTO

Ainda não existe antiviral disponível para tratamento específico da infecção pelo vírus Zika. Para os quadros sintomáticos, aplicam-se as principais medidas:

  • Repouso relativo, enquanto durar a febre;
  • Estímulo à ingestão de líquidos;
  • Administração de paracetamol ou dipirona em caso de dor ou febre;
  • Não administração de ácido acetilsalicílico;
  • Administração de anti-histamínicos;
  • Recomendação ao paciente para que retorne imediatamente ao serviço de saúde, em casos de sensação de formigamento de membros ou alterações do nível de consciência (para investigação de SGB e de outros quadros neurológicos);
  • Diante da queixa de alteração visual, encaminhamento ao oftalmologista para avaliação e tratamento.

ATENÇÃO!

Gestantes com suspeita de Zika devem ser acompanhadas conforme protocolos vigentes para o pré-natal, desenvolvidos pelo Ministério da Saúde do Brasil.

PREVENÇÃO

Atualmente, não há vacinas ou terapias específicas para o ZIKV viáveis disponíveis. Portanto, o controle do vetor é o principal método para a prevenção e controle de doenças transmitidas por mosquitos, como Zika, seja pelo manejo integrado de vetores ou pela prevenção pessoal. 

  • Para evitar a transmissão da doença, é fundamental eliminar os focos de criação do mosquito – eliminando o acúmulo de água parada em vasilhames no quintal, vasos de planta e demais objetos, como pneus velhos, lixo etc.;
  • Utilize telas em janelas e portas, use roupas compridas – calças e blusas – e, se vestir roupas que deixem áreas do corpo expostas, aplique repelente nessas áreas;
  •  Fique, preferencialmente, em locais com telas de proteção, mosquiteiros ou outras barreiras disponíveis.

Caso observe o aparecimento de manchas vermelhas na pele, olhos avermelhados ou febre, procure atendimento em um serviço de saúde; não tome medicamentos por conta própria.

Medidas de proteção individual para evitar picadas de mosquitos devem ser adotadas por viajantes e residentes em áreas de transmissão. A proteção contra picadas de mosquito é necessária principalmente ao longo do dia, pois o Aedes aegypti pica principalmente durante o dia. 

MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL RECOMENDADAS

  • Proteger as áreas do corpo que o mosquito possa picar, com o uso de calças e camisas de mangas compridas;
  • Usar repelentes à base de DEET (N-N-dietilmetatoluamida), IR3535 ou de Icaridina nas partes expostas do corpo. Também pode ser aplicado sobre as roupas. O uso deve seguir as indicações do fabricante em relação à faixa etária e à frequência de aplicação. Deve ser observada a existência de registro em órgão competente. Repelentes de insetos contendo DEET, IR3535 ou Icaridina são seguros para uso durante a gravidez, quando usados de acordo com as instruções do fabricante. Em crianças menores de 2 anos de idade, não é recomendado o uso de repelente sem orientação médica. Para crianças entre 2 e 12 anos, usar concentrações até 10% de DEET, no máximo 3 vezes ao dia;
  • A utilização de mosquiteiros sobre a cama, uso de telas em portas e janelas e, quando disponível, ar-condicionado.

Referencias

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/z/zika-virus

https://bvsms.saude.gov.br/infeccao-pelo-virus-zika/

Para saber mais

Texto – Arboviroses – Dengue, Zika, Chikungunya e Febre amarela; Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF); 18/02/2024; https://institutoagf.com.br/arboviroses

Texto – Conhecendo mais a dengue; Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF); 15/01/2024; https://institutoagf.com.br/conhecendo-mais-a-dengue


Vídeo – Zika vírus | Origem; Dr. Drauzio explica como a doença surgiu; 8 de fev. de 2016;

Vídeo – Zika vírus | Quadro Clínico; Dr. Drauzio fala sobre sintomas da doença são moderados, o problema é contrair durante uma gestação; 15 de fev. de 2016;

Vídeo – Zika vírus | Precauções; Dr. Drauzio explica os cuidados que as grávidas precisam ter para não serem infectadas e faz algumas recomendações diante das incertezas em relação à doença e à microcefalia; 18 de fev. de 2016;