Entendendo a Endometriose
Artigo escrito por Rafael Bombein (CREF – 016866/SP) e editado pelo jornalista Fábio Busian (MTB 81800)
Atingindo entre 5 e 15% das mulheres no período reprodutivo e até 5% na fase pós-menopausa; a endometriose é uma doença ginecológica crônica, no qual ocorre uma modificação no funcionamento normal do organismo em que as células do tecido que reveste o útero (endométrio), em vez de serem expulsas durante a menstruação, se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde voltam a multiplicar-se e a sangrar.
A endometriose foi a doença mais estudada em ginecologia nos últimos 15 anos, mesmo assim, todas as causas ainda não são conhecidas. Existem alguns motivos prováveis, de acordo com a Associação Brasileira de Endometriose (SBE), “como a menstruação retrógrada, que ocorre quando o fluxo sanguíneo volta pelas tubas uterinas, sendo derramado nos órgãos próximos, como ovários, peritônio e intestino; outras teorias muito consideradas para o desenvolvimento da doença são a falha no sistema imunológico ou a transformação de células, que assumem as características do endométrio, fora do útero”.
Veja o video produzido pelo IAGF:
Apesar do Brasil ser considerado um dos países que possui centros avançados para diagnóstico e tratamento da doença, estando no ranking entre os melhores do mundo, metade da população feminina brasileira desconhece a doença, seus sintomas e tratamento; desta forma a maioria das pacientes demora a procurar ajuda médica e a desinformação sobre os sinais e consequências da doença segue alarmante.
Existem mulheres que sofrem dores intensas, enquanto outras não têm nenhum tipo de sintoma; entre as manifestações mais comuns estão:
- Cólicas menstruais fortes e por vezes incapacitantes;
- Cólicas intestinais (acompanhadas de sangramentos nas fezes);
- Dor em forma de cólica durante o período menstrual que pode incapacitar as mulheres de exercerem suas atividades habituais;
- Dor durante as relações sexuais;
- Fadiga;
- Diarreia;
- Dificuldade de engravidar; a infertilidade está presente em cerca de 40% das mulheres com endometriose.
Pacientes que não apresentam sintomas são, geralmente, diagnosticadas em investigações por infertilidade, laqueaduras tubárias e cirurgias abdominais ou pélvicas em que o sintoma principal não é dor.
O diagnóstico sugestivo de endometriose pode ser feito por exame físico, ultrassom endovaginal especializado, exame ginecológico e dosagem de marcadores no sangue. No entanto, a principal ferramenta para confirmação diagnóstica é a laparoscopia, um procedimento cirúrgico que avalia a extensão da doença detectando as lesões e indicando a necessidade de biópsias. Os dados em conjunto são fundamentais para o diagnóstico e tratamento adequado das pacientes.
Qualquer órgão na cavidade abdominal, bacia, pode ser afetado pela endometriose; quando a doença surge nos ovários pode provocar o aparecimento de um cisto denominado endometrioma, de tamanho grande e que compromete a capacidade de a mulher engravidar. Outros órgãos também podem ser acometidos, como, parte do intestino grosso, bexiga, apêndice e vagina.
A endometriose está associada ao desenvolvimento de câncer em cerca 2,5% dos casos. Apesar dessa ocorrência ser rara, o médico patologista é fundamental na realização de diagnósticos precoces de tumores em ressecções cirúrgicas de lesões endometrióticas.
É importante ficar atento aos sintomas da endometriose e realizar visitas de rotina ao ginecologista. Se for detectada precocemente, é possível iniciar o tratamento rapidamente, prevenindo complicações futuras.
RECOMENDAÇÕES PARA LIDAR COM A ENDOMETRIOSE
- Não imagine que a cólica menstrual é um sintoma natural na vida da mulher, procure o ginecologista e descreva o que sente para ele orientar o tratamento;
- Faça todos os exames necessários para o diagnóstico da endometriose, uma doença crônica que acomete mulheres na fase reprodutiva e interfere na qualidade de vida;
- Inicie o tratamento adequado ao seu caso tão logo tenha sido feito o diagnóstico da doença;
- Saiba que a endometriose está entre as causas possíveis da dificuldade para engravidar, mas a fertilidade pode ser restabelecida com tratamento adequado.
A qualidade alimentar exerce influência no desenvolvimento e prognóstico da endometriose. Alguns estudos têm mostrado que uma alimentação baseada em compostos antioxidantes, como ômega-3 e vitaminas C, D e E, impacta na diminuição da dor pélvica e na redução dos marcadores inflamatórios; essa é a denominada dieta anti-inflamatória.
Segundo estudo norte-americano, intitulado, Nurses’ Health Study II, que buscou determinar a relação da ingestão de diversos grupos alimentares com o desenvolvimento da patologia; baseado nesse estudo seguem alguns alimentos que aumentam o risco da endometriose, os chamados vilões, e aqueles alimentos que previnem a doença;
ALIMENTOS QUE SÃO VILÕES DA DIETA NA ENDOMETRIOSE
- Carnes vermelhas e alimentos embutidos;
Quando consumidos em excesso, acarretam o aumento de hormônios como testosterona e estradiol, influenciando no agravo da inflamação e da dor.
- Excesso de consumo de gorduras saturadas e trans presentes nos alimentos ultraprocessados;
Estes elevam o estresse oxidativo e, consequentemente, a inflamação no organismo.
- Consumo diário de crucíferos como couve-flor, brócolis e couve de Bruxelas;
Esses vegetais podem potencializar os sintomas gastrointestinais, pois o elevado grau de fermentação deles dificulta a digestão e a absorção desses alimentos pelo organismo.
ALIMENTOS QUE SÃO ALIADOS DA DIETA NA ENDOMETRIOSE
- Inclusão na dieta de tipos de gordura de melhor qualidade: óleo de peixe e ácidos graxos poli-insaturados presentes no ômega-3 podem contribuir para a redução da intensidade e duração da dispareunia (dor genital), além de auxiliar na progressão das lesões endometriais;
- Consumo de pequenas porções de lácteos com baixo teor de gordura: leite desnatado, iogurte e queijo cottage podem ajudar a reduzir riscos de endometriose, por apresentarem a capacidade de diminuir a quantidade de marcadores de estresse oxidativo e respostas inflamatórias;
- Três ou mais porções de frutas por dia, principalmente as cítricas: o consumo dessa quantidade está associado ao menor risco de desenvolvimento da endometriose se comparado ao consumo de menos de duas porções diárias;
- Vitamina C: exerce papel antioxidante, além de auxiliar na cicatrização, prevenção e recuperação das lesões da endometriose;
- Vitamina D é: nutriente muito importante nos processos anti-inflamatórios do corpo. Segundo a pesquisa, pacientes que apresentavam níveis da concentração mais elevados de vitamina D tiveram um risco 24% menor de desenvolver endometriose;
- Vitaminas antioxidantes, como C e E: possuem grande influência na fertilidade, pois atuam na redução do estresse oxidativo nos óvulos e nos espermatozoides.
O estado nutricional impacta diretamente na saúde e qualidade de vida das mulheres com endometriose. Trata-se de uma abordagem fundamental para analisar e concluir diagnóstico sobre a composição corporal do indivíduo. Um acompanhamento multidisciplinar, com o olhar clínico de um profissional de nutrição para prescrever à paciente uma dieta anti-inflamatória, é essencial para o tratamento dos sintomas da endometriose, diminuindo a inflamação e evitando agravamentos do quadro.
IMPORTANTE
Somente médicos e cirurgiões-dentistas devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios