Informações sobre a melatonina
Artigo escrito por Rafael Bombein (CREF – 016866/SP) | Ilustração: Ricardo C.Pretel
A melatonina, também conhecida como hormônio do sono, é um hormônio produzido pela glândula pineal, que é uma pequena glândula localizada na região central do cérebro, no meio dos dois hemisférios cerebrais. Essa substância age sobretudo no próprio cérebro, sendo responsável pelo controle dos ciclos de sono e vigília.
À noite, quando está escuro, a produção de melatonina aumenta, induzindo o cérebro a sentir sono. Durante o dia, quando está claro, a secreção de melatonina reduz-se, fazendo com que fiquemos mais despertos. A simples exposição à luz durante a noite ou ao escuro durante o dia pode alterar o ritmo de produção da melatonina.
FUNCIONAMENTO DA MELATONINA
Como falado, a melatonina é o hormônio produzido no cérebro responsável pelo controle do ritmo circadiano do nosso organismo.
O ritmo circadiano é o nosso relógio interno de 24 horas, que determina o ritmo dos processos biológicos do nosso organismo ao longo de um dia inteiro (controla, entre outros, a temperatura corporal, a secreção de hormônios e a pressão arterial). O ritmo circadiano desempenha um papel crítico na definição de quando adormecemos e quando acordamos.
A produção do hormônio do sono começa a se elevar ao entardecer, atingindo o seu pico entre as 23h e as 3h da manhã. Após o pico, os níveis de melatonina caem rapidamente, preparando o organismo para acordar no início da manhã. Ao redor das 8 e 9h da manhã, os níveis de melatonina encontram-se no seu valor mínimo e assim permanecerão até o início da tarde.
É sempre importante destacar que a melatonina tem um importante papel no controle do ciclo sono-vigília, mas não é o único fator que controla o momento em que sentimos sono. Nem todo mundo com insônia tem deficiência na produção do hormônio do sono.
A melatonina é produzida a partir do triptofano, um aminoácido presente em diversos alimentos, tais como laticínios, carnes, amendoim, ovos, ervilha, etc. Não há evidências científicas, porém, de que o consumo de alimentos ricos em triptofano aumente os níveis sanguíneos de melatonina ou que ajudem no tratamento da insônia. Da mesma forma, o consumo de alimentos ricos em melatonina, como vinho, frutas, cereais e azeite, também não apresenta evidências sólidas de que possa ser útil na indução do sono.
INTERFERENCIAS NA PRODUÇÃO DA MELATONINA
Diversas situações podem interferir no ciclo natural da melatonina, incluindo trabalho noturno, jet lag (distúrbio temporário do sono, que ocorre quando o relógio biológico do corpo está fora de sincronia com um novo fuso horário), idade avançada, exposição frequente à luz artificial durante a noite, problemas de visão, etc.
Idade
A secreção de melatonina pela glândula pineal varia significativamente com a idade. No ser humano, o hormônio do sono começa a ser secretado ao redor do 4º mês de vida, coincidindo com a consolidação do sono no período da noite. A partir desta idade, a capacidade de secreção noturna de melatonina aumenta rapidamente, atingindo um pico entre as idades de 1 e 3 anos. Daí em diante, a produção desce ligeiramente, estabilizando-se num patamar que persiste durante toda a vida adulta.
Conforme envelhecemos, a secreção noturna de melatonina começa a sofrer um declínio. Uma pessoa de 70 anos, apresenta níveis noturnos de hormônio do sono cerca de 75% mais baixos que durante sua juventude. Esta queda costuma ocorrer pela calcificação progressiva da glândula pineal, que vai se tornando cada vez menos capaz de secretar o hormônio.
Influência da luz
A secreção noturna de melatonina pode ser inibida pela exposição à luz durante a noite, mesmo em pequena intensidade, principalmente se as pupilas estiverem dilatadas.
Estudos mostram que a luz azul, é o tipo de luz que mais suprime a secreção de melatonina. Esse comprimento de onda de luz é muito comum nas luzes LED e nos aparelhos eletrônicos, tais como e-books, tablets, computadores, smartphones, etc.
Medicamentos
Alguns fármacos e substâncias podem inibir a produção da melatonina. O mais conhecido é o propranolol, um medicamento da classe dos beta-bloqueadores, muito usado para o tratamento da hipertensão e de problemas cardíacos. A cafeína e o álcool também são substâncias que interferem com a secreção da melatonina.
Cegueira
Pessoas cegas que não conseguem detectar a presença da luz do dia podem ter uma produção de melatonina desregulada. Quanto mais grave é a deficiência visual, maior é o risco de transtornos do sono.
MELATONINA ARTIFICIAL
A melatonina sintética, ou seja, a melatonina artificial criada em laboratórios, foi desenvolvida como uma forma de tratar a insônia, servindo como alternativa mais econômica e com menos efeitos colaterais que os medicamentos habitualmente utilizados para esse fim.
Assim como a melatonina natural, a melatonina vendida comercialmente apresenta dois efeitos: ajuda na indução do sono e na sua manutenção durante a noite. A melatonina também serve para regularizar o sono nos trabalhadores noturnos, que precisam dormir de dia.
Inicialmente vendida como suplemento alimentar em boa parte do mundo, o hormônio do sono rapidamente se tornou popular e passou a ser uma rentável fonte de lucro para as empresas que a produziam.
Porém, como a melatonina era tratada pelas entidades reguladoras como um simples suplemento alimentar, e não como um medicamento, a falta de uma rigorosa fiscalização sobre o produto acabou gerando diversos problemas, tais como contaminação de amostras e comprimidos com doses excessivas; como não era encarada como remédio, o fabricante não precisava comprovar cientificamente sua eficácia contra nenhuma doença, nem mesmo contra a insônia, principal indicação da melatonina.
Por conta dos abusos, a partir da década de 2000 vários países, incluindo os integrantes da União europeia, passaram a tratar a melatonina como droga, exigindo estudos científicos sobre eficácia e segurança, além de proibir sua comercialização sem prescrição médica. Nos EUA, entretanto, a melatonina continua sendo tratada como suplemento alimentar, podendo ser adquirida livremente.
No Brasil, a melatonina é aprovada para venda desde outubro de 2021. A Diretoria Colegiada da Anvisa aprovou o uso da melatonina para a formulação de suplementos alimentares, destinados exclusivamente a pessoas com idade igual ou maior que 19 anos e para o consumo diário máximo de 0,21 mg.
USO DA MELATONINA
Existem atualmente duas formas diferentes de melatonina, a melatonina sintética de rápida ação (forma mais comum) ou de liberação prolongada.
No Brasil, apenas a dosagem de 0,21 mg é autorizada; em outros países do mundo é possível encontrar doses maiores.
A dose de melatonina capaz de simular a produção natural do hormônio é de 0,1 a 0,5 mg por dia.
Não há evidências de que as doses acima de 1 mg por dia sejam mais eficazes que as doses abaixo de 1 mg.
Para aliviar os efeitos do jet lag, a dose sugerida é de 0,21 a 1 mg na noite da chegada ao novo destino, mantendo o medicamento por mais 2 a 5 noites, conforme desejado.
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
Os estudos científicos controlados sobre a melatonina apresentam resultados contraditórios. Este fato se deve porque nem todo tipo de insônia responde ao tratamento com o hormônio do sono e nem toda insônia é provocada por uma deficiência na produção de melatonina.
Há muitos estudos que não conseguiram provar que a melatonina é superior ao placebo no tratamento da insônia crônica. Outros mostraram que a melatonina sintética reduz em apenas cerca de 7 minutos o tempo que o paciente leva para pegar no sono em comparação com o placebo.
As situações nas quais os estudos demonstram que a melatonina funciona melhor que o placebo são:
- Tratamento dos efeitos do jet lag.
- Síndrome do atraso das fases do sono – que é um tipo de distúrbio do sono que faz com que o paciente demore muito para dormir (geralmente depois de 1 ou 2 da manhã) e no dia seguinte tenha dificuldade de acordar e ser produtivo na parte da manhã.
- Insônia em pacientes com níveis mais baixos de hormônio do sono noturno.
- Regularização do sono para pessoas que trabalham de madrugada e precisam dormir de dia.
- Regularização do sono para pessoas com deficiência visual.
Apesar de não ser a droga milagrosa contra a insônia que os meios de comunicação frequentemente propagam, o hormônio do sono acaba sendo uma opção de tratamento, já que em doses baixas o risco de efeitos colaterais é pequeno.
Evidências científicas atuais mostram e a melatonina parece ter um pequeno efeito para as pessoas com dificuldade de pegar no sono, mas não ajuda naqueles que conseguem dormir, mas têm dificuldade de manter o sono durante toda noite.
EFEITOS COLATERAIS DO HORMÔNIO DO SONO
A melatonina é uma substância com baixa incidência de efeitos colaterais. Quando estes ocorrem, a causa habitualmente é a utilização de doses elevadas (acima de 3 mg) ou pela presença de substâncias ocultas na fórmula.
Entre os efeitos colaterais mais relatados podemos citar: dor de cabeça, sono fragmentado, aumento da incidência de pesadelo, tontura, náuseas, sensação de estar dopado, sonolência durante o dia e elevação dos níveis do hormônio prolactina.
CONTRAINDICAÇÕES
O uso da melatonina não está autorizado para crianças, gestantes ou mulheres em fase de aleitamento materno.
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
A melatonina pode interagir com uma variedade de medicamentos, afetando tanto a eficácia desses medicamentos quanto a própria eficácia da melatonina. Aqui estão algumas interações importantes a serem consideradas:
- Anticoagulantes e Antiagregantes Plaquetários: o uso conjunto de melatonina com anticoagulantes e antiagregantes pode aumentar o risco de sangramento.
- Anticonvulsivantes: a melatonina pode inibir os efeitos dos anticonvulsivantes e aumentar a frequência de convulsões, particularmente em crianças com deficiências neurológicas.
- Medicamentos para Pressão Arterial: a melatonina pode piorar a pressão arterial em pessoas que tomam medicamentos para hipertensão.
- Depressores do Sistema Nervoso Central (SNC): a combinação de melatonina com medicamentos que agem no SNC pode causar um efeito sedativo aditivo.
- Medicamentos para Diabetes: a melatonina pode afetar os níveis de açúcar no sangue, portanto, pacientes diabéticos devem consultar um médico antes de usar melatonina.
- Contraceptivos Orais: o uso de contraceptivos orais com melatonina pode causar um efeito sedativo aditivo e aumentar os possíveis efeitos colaterais da melatonina.
- Substratos do Citocromo P450 1A2 (CYP1A2) e Citocromo P450 2C19 (CPY2C19): pacientes que tomam medicamentos afetados por estas enzimas, como o diazepam, devem usar melatonina com cautela.
- Fluvoxamina (Luvox): este medicamento usado para tratar transtorno obsessivo-compulsivo pode aumentar os níveis de melatonina, causando sonolência excessiva.
- Medicamentos que Diminuem o Limiar de Convulsão: tomar melatonina com esses medicamentos pode aumentar o risco de convulsões.
Referencias
https://www.mdsaude.com/neurologia/melatonina/
Para saber mais
Vídeo – Melatonina funciona ou não contra a insônia?
Nesse vídeo o Dr. Marco Antonio Abud Torquato Jr., médico psiquiatra, explica sobre a Melatonina e quais os casos indicados para o uso dela.