

Medicina Tradicional Chinesa

Dra. Kelly Keiko Tateyama, Fisioterapeuta
Crefito: 22.766-F
• Especialista em Fisioterapia Esportiva
• Especialista em Quiropraxia;
• Certificada em RPG (Reeducação Postural Global) pelo IPSRPG (Instituto Philippe Souchard de RPG;
• Acupunturista graduada no Centro Tradicional de Treinamento da Federação Mundial de Sociedades de Acupuntura e Moxabustão em Pequim (WFAS, ONG-WHO) ministrado pela Administração Estatal de Medicina Tradicional Chinesa, na República Popular da China.
Atualmente a Dr. Kelly é sócia e responsável técnica da Orthophysic Clínica de Fisioterapia; http://www.orthophysic.com.br
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Noções Gerais da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
Existem vários métodos de tratamento dentro da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Temos a Acupuntura com agulhas filiformes, moxa, sangria, ventosas, agulhas de fogo e agulhas quentes, eletroacupuntura, gua sha, auriculoterapia, raio laser, dietoterapia chinesa, fitoterapia, Qi Gong, além de outros métodos com as agulhas de Acupuntura.
A Acupuntura é uma medicina criada e desenvolvida pelos nossos antepassados na sua luta contra as doenças.
Na antiguidade quando alguém sentia alguma dor fazia massagens, dava leves pancadas na região da dor ou picadas com um objeto afiado e percebiam que diminuíam as dores. Através do instinto e da experiência as pessoas passaram a saber que colocar a mão sobre um local dolorido poderia trazer alívio. Muitos pontos vitais que traziam alívio ao doente apenas pelo toque devem ter sido descobertos desta forma. Isto pode ser considerado o início da Acupuntura e o conhecimento acumulado era transmitido de uma geração à próxima. Outros métodos de tratamento também foram sendo desenvolvidos, como a moxa para cauterização e os unguentos e cataplasmas feitos a partir de vegetais.
Nos primórdios da Acupuntura utilizavam-se as agulhas de pedra afiadas no tratamento das doenças (para drenar abscessos), estas eram denominadas Bianshi e eram as mais primitivas agulhas na história da Acupuntura. Houveram agulhas de osso, de bambu, de cerâmica e com o desenvolvimento da metalurgia agulhas metálicas de cobre, de ferro, de prata, de ouro e por fim de aço inoxidável que são usadas até hoje pela vantagem de resistir por longo tempo, não enferrujar e a sua boa elasticidade que facilitam no manejo das agulhas.
A Medicina Tradicional Chinesa é um dos mais valiosos legados que a cultura e história do povo chinês deixou para a humanidade. Hoje refletimos sobre o vertiginoso auge e desenvolvimento que vem ganhando nos países do Ocidente, conseguindo esmorecer à guerra silenciosa que os laboratórios de medicamentos desataram contra o que se denominou medicina alternativa, tratando com esta classificação de abrangê-la como um método terapêutico alternativo à medicina moderna e sem solidez científica; contrariando este critério, a MTC vem sendo tomada com uma seriedade crescente nos setores médicos e paramédicos, desenvolvendo investigações que não só se limitam às ciências médicas, como também à física, química, etc.
Quem sabe o homem asfixiado de tecnologia, de drogas químicas, de sedentarismo e de um estilo de vida nefasto, tenha percebido consciente ou inconscientemente o grito desesperado de sua natureza interior. Para aqueles que estão acostumados com o sucesso fácil das cirurgias, com o uso indiscriminado de antibióticos e analgésicos, o contato com a medicina moderna pode ser extremamente valioso. Para os antigos, não bastava curar o órgão doente. Quando o indivíduo adoece, isso quer dizer que sua harmonia com o universo foi rompida e, para curá-lo, essa harmonia precisa ser restabelecida. Para a Acupuntura, a harmonia é restabelecida quando se consegue o equilíbrio entre as forças contrárias (yang e yin) presentes em tudo que existe.
É nesse sentido que consideramos importante o estudo das medicinas antigas. Enquanto a medicina ocidental moderna procura tratar das doenças locais esquecendo as pessoas, as medicinas antigas partiam da pessoa para a cura do universo.
Toda pessoa que se aproxima com uma mente aberta e flexível do raciocínio oriental antigo, nesse caso a MTC, reconhece como necessidade primária a mudança de pensamento obrigatória para poder entender esse conhecimento. Essa mudança implica, em primeira instância, tirar-lhe o fio do mistério e dar-nos conta que estamos frente a uma ciência milenária que embora baseada em princípios diferentes dos que hoje reconhecemos como ciência, leva consigo a experiência de mais de 4.000 anos de busca e validação.
A MTC possui um amplo e profundo corpo teórico, sendo rica, em métodos tanto ativos como passivos de intervenção, os quais, em sentido geral, podem-se classificar em: medicina externa e medicina interna. Como medicina externa são definidos todos os métodos terapêuticos que atuam influenciando o interior do organismo a partir da superfície do corpo, como: a Acupuntura, com os diferentes microssistemas que a conformam, a moxibustao, o Tui Na ou massagem tradicional chinesa, as automassagens, os exercícios terapêuticos de controle energético como o Tai Ji Quan, Qi Gong, Yi Jin Jing, Ba Duang Jing, etc. Enquanto que, como medicina interna se define à farmacologia chinesa obtida de plantas, minerais e animais.
TUI NA
O Tui Na é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa trata-se de uma forma de massagem chinesa, estimulando ou sedando os pontos dos meridianos do paciente, visando o equilíbrio do fluxo de energia por estes canais.
Tui significa “empurrar”, “deslizar” e Na significa “segurar com força”, “apreender”. Este termo é representado por dois caracteres sobrepostos: o de baixo significa “mão” e o de cima significa “união”, “harmonia”. Tui Na significa, assim, “a mão que busca a harmonia, comprimindo, estimulando, pondo em movimento.
Tui Na é um conjunto de técnicas manuais mais vigorosa onde o profissional além das mãos e dedos, utiliza os punhos, cotovelos, antebraços e joelhos nos canais de energia do corpo, os meridianos.
O Tui Na pode ser usado para tratar várias disfunções, entre as quais lesões dos tecidos moles, como também muitos outros tipos de doenças, na cirurgia, ginecologia, neurologia, os cinco órgãos dos sentidos, pediatria etc. O Tui Na chinês está dividido em vários ramos, tais como: adulto, infantil, ortopedia e traumatologia, cosmetologia, prevenção da saúde, reabilitação, medicina esportiva e assim por diante.
O Tui Na pode ser usado não somente para tratar doenças, mas para proteger a saúde e desenvolver o corpo, de forma que uma doença possa ser contida no seu início. Isto mostra que o Tui Na (de autoterapia) era extensamente usado antigamente como meio de prevenir doenças e prevenir a saúde, aumentando a imunidade do corpo e ajustando as funções do mesmo. Os chineses no passado mantinham o fluxo de energia “Qi”, fluindo livremente, fortalecendo os tendões e ossos e livrando-se da fadiga e inquietude por praticar a autoterapia, com a finalidade de prevenir doenças e prolongar a vida. Uma das essências da ciência de prevenção e cura na Medicina Tradicional Chinesa é: prevenção primeiro e tratamento depois, por isso o Tui Na para os idosos, deve ser praticado o mais cedo possível.
Seu objetivo é alcançar efeitos de cura do próprio organismo estimulando os meridianos para que o corpo corrija eventuais desequilíbrios, reestabelecendo o fluxo sanguíneo, regulando as funções dos órgãos internos, regenerando tecidos cicatrizados, regulando o sistema nervoso e endócrino, promovendo o bem-estar físico e psicológico e relaxando os músculos.
QI GONG
Qi Gong ou Chi Kung significa “trabalho de energia” e é essencialmente a arte de cultivar o “Qi” para promover a saúde e a vitalidade. O Qi é a energia da vida que habitou o universo desde o começo dos tempos e que penetra em tudo o que nele existe. O Qi é a energia que guia os planetas nas suas órbitas e enche a Terra, o ar, as rochas e os rios.
O Qi é a força vital de todos os seres vivos, a força vital do corpo e da mente humana. O Qi Gong é a arte de utilizar e controlar a energia da vida, ou Qi, que, segundo os antigos princípios chineses de tratamento de doenças e do bem-estar físico e mental, só se torna possível quando o volume de Qi de boa qualidade consegue fluir livremente pelo corpo ao longo de caminhos definidos. O objetivo de todos os exercícios do Qi Gong é desenvolver a energia, facilitando o livre fluxo do Qi, no sentido de aumentar e manter as reservas de Qi assegurando a sua livre circulação por todo o corpo. Existem muitos fatores que impedem o fluxo do Qi: a depressão, a inatividade, a fadiga, a má nutrição, o stress, a poluição, a doença. O Qi Gong procura reeducar a mente e o corpo pelo exercício e pelo autoconhecimento, estimulando novas formas de viver que contrariem esses maus efeitos.
Temos exercícios em que o corpo parece não se mover. São os exercícios estáticos que funcionam através da postura e que proporcionam o alinhamento de algumas partes do corpo para facilitar o fluxo do Qi. Todos os exercícios têm um forte componente mental implicando na meditação. Os exercícios dinâmicos, consistem em movimentos propriamente ditos. Destinam-se a mobilizar as articulações, a distender os tendões, a fortalecer os músculos e a melhorar o equilíbrio e a coordenação. Os movimentos de Qi Gong são lentos, harmoniosos, firmes e graciosos, exigindo grande controle muscular sem obrigar a esforços excessivos. Os exercícios dinâmicos melhoram a circulação do sangue e da linfa, assim como do Qi. Libertam o Qi armazenado no corpo, expelem o Qi usado e impuro e extraem a energia que circula no mundo exterior, na terra e no céu, para reabastecer as reservas do corpo.
Os exercícios do Qi Gong estimulam os níveis de energia do corpo através de exercícios de postura, de movimentos suaves que ativam a circulação do sangue nas artérias e veias e o fluxo da energia da vida, ou Qi, através dos canais ou meridianos. Exercita as articulações, os tendões e os músculos e implica na aprendizagem do uso da mente para levar o Qi às partes do corpo onde é preciso para fortalecer ou curar.
Esta forma de exercício fortificante pode ser praticada desde a adolescência até o último dia da sua vida. Os movimentos são lentos e não provocam tensão ou esforço corporal. Por essa razão, pode-se começar em qualquer idade. Na realidade, diz-se que o Qi Gong tem o poder de aumentar a duração da vida.
O Qi Gong pode ser uma ferramenta útil no dia-a-dia, melhorando a concentração e levando ao autoconhecimento e à meditação. Se praticado regularmente, os seus movimentos suaves exercitam as articulações sem provocar as tensões ou danos que os desportos de grande impacto podem causar, controlando assim as doenças degenerativas.
MOXABUSTÃO
O tratamento das moléstias pelos moxas existiria desde tempos imemoriais, mas não se pode garantir que já fosse praticado nos tempos mitológicos. O tratamento por meio da Artemísia foi levado da China, durante a dinastia Chou, para o Japão. Nesta época, foram numerosos os livros de medicina chinesa no Japão que descreveram o tratamento pela Artemísia (cerca de 74 anos antes da introdução do budismo no país). Assim sendo, as primeiras literaturas a respeito de moxas foram aplicados há mais de 1.300 anos, mas o tratamento desenvolveu-se principalmente entre os séculos 17 e 19.
A moxabustão é uma técnica terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa, que significa “longo tempo de aplicação do fogo”. É realizado através da queima de uma erva medicinal denominada Artemísia sinensis e Artemísia vulgaris. Esta planta é usada devido aos seus efeitos químicos e pelo seu espectro infravermelho extremamente eficaz.
A folhas da Artemísia são lavadas, secadas, trituradas e peneiradas, até transformaram-se em uma massa uniforme, semelhante a uma lã vegetal, a moxa. Após preparada, a moxa pode ser moldada de diversas formas para sua utilização, sendo as mais usuais em bastão ou cone.
A moxabustão trata e previne doenças através do aquecimento profundo dos pontos energéticos. O aquecimento dos pontos fornece calor e energia ao corpo obtendo um efeito anti-inflamatório e analgésico, sendo indicada portanto nos casos provocados por frio e umidade que causam disfunções no organismo e também em situações de deficiência de energia (convalescença, doenças crônicas e pacientes idosos e crianças), removendo bloqueios de energia que obstruem seu fluxo de energia, tonificando e diminuindo a rigidez das articulações, dos espasmos dos músculos e favorecendo o movimento e a atividade.
Na patologia chinesa as doenças reumáticas são classificadas como doenças do frio e da umidade e predomina no inverno. A exposição ao frio após transpirar ou ser apanhado pelo vento ou chuva pode causar contração e estagnação, podendo ser percebida por membros frios; palidez, diarreia com fragmentos não digeridos nas fezes; urina límpida e abundante.
A umidade predomina no final do verão, época de chuvas, torna-se susceptível aos seus efeitos patogênicos com o uso de roupas molhadas e/ou residência ou locais de trabalho em locais úmidos, ou mesmo contato frequentes com a água. Se caracteriza por indolência e estagnação além de sintomas como tontura, cansaço, opressão no peito e epigástrico, náusea, vômitos, viscosidade e sabor adocicados na boca. Doenças de pele, alergias, abcessos, úlceras gotosas, leucorréia de fluxo abundante são manifestações de seu poder patogênico.
Sua aplicação funciona, acendendo o bastão de moxa (como um charuto) próximo ao ponto ao qual se deseja acrescentar energia. O calor da moxa pode ser conduzido através da agulha de Acupuntura ou diretamente sobre a pele.
VENTOSATERAPIA
Esta forma de terapia é utilizada desde tempos remotos e em diversas civilizações, como a europeia, oriental, africana e indígena. Os índios usavam chifres de animais aquecidos e faziam vácuo sugando o ar, os orientais costumavam empregar o bambu, e na Europa, durante a Idade Média, as sangrias eram aplicadas visando obter efeitos semelhantes aos das ventosas, sendo colocadas sanguessugas nas veias para obtenção de descompressão. A Europa desenvolveu a ventosa como conhecemos hoje, empregando o vidro.
A ventosaterapia é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa, que funciona através da aplicação de ventosas ou de pequenos “copos” de vidro ou plástico sobre a pele, que através do calor ou sucção geram um vácuo entre a ventosa e a pele, fazendo com que o fluxo sanguíneo para estas áreas aumente, o que auxilia no alívio de dores e acelere a recuperação muscular. Visa eliminar toxinas e retirar estagnações do sangue em determinadas zonas do corpo.
Para criar um pequeno calor na borda do copo costuma-se aproximar um algodão quente por alguns segundos dentro do copo. Depois o copo é colocado sobre a pele, criando-se uma pressão negativa que favorece a sucção. Geralmente o copo de ventosa permanece no local por dez a quinze minutos.
Quando a circulação é ativada através da ventosa, o aumento de sangue favorece a nutrição dos músculos, alivia as tensões, dores musculares e articulares.
Os círculos vermelhos que se formam após a retirada dos copos são pequenas equimoses (micro-hematomas), que geralmente se resolvem por completo dentro de dois a três dias após a aplicação da ventosa. Eles surgem devido à sucção e aumento do fluxo sanguíneo local. É considerada uma reação normal ao tratamento, não havendo necessidade de qualquer tratamento para a pele. Quanto mais escura a marca deixada pela ventosa, mais pobre é a circulação do sangue naquela parte do corpo.
A ventosaterapia é utilizada para o alívio de dores musculares, como lombalgias, cervicalgias, dores abdominais, dores articulares, como a osteoartrose. Auxilia na recuperação muscular após atividades físicas, melhora o sistema circulatório e outras patologias, auxilia na reabilitação músculo-esquelética esportiva e também prevenção de lesões.
Na China, a ventosaterapia é usada para tratar doenças respiratórias, como bronquite, asma e congestão; artrite; problemas gastrointestinais e certos tipos de dor.
A ventosaterapia é geralmente indolor, e até mais eficaz do que a massagem para problemas musculares.
Alguns pacientes mais sensíveis, podem sentir uma leve piora do dor imediatamente após a aplicação. Em alguns casos, pode haver inchaços, pequenos hematomas locais, formigamento ou coceira local devido a hiperemia.
É uma técnica eficaz no relaxamento muscular e tratamento de contraturas. A sucção das ventosas ajuda a estimular o fluxo de sangue novo e pode ajudar na liberação de anti-inflamatórios endógenos (do próprio corpo). O aumento do fluxo sanguíneo pelas ventosas auxilia na reparação e recuperação muscular após atividades físicas intensas.