O que é tracoma?

O tracoma é uma doença inflamatória ocular, uma conjuntivite causada pela bactéria Chlamydia trachomatis que ocorre em áreas de maior concentração de pobreza, deficientes condições de saneamento básico e acesso à água.

O tracoma é responsável por prejuízos visuais em 1,9 milhões de pessoas, das quais 450 mil apresentam cegueira irreversível. Estima-se que 190,2 milhões de pessoas vivem em áreas endêmicas com risco de cegueira por tracoma.

IMPORTANTE:  O tracoma é um problema de saúde pública em muitos países pobres e em áreas remotas de 42 países da África, Ásia, América Central e do Sul e Oriente Médio.

Quais são as formas clínicas do tracoma?

O tracoma apresenta cinco formas clínicas, classificadas e padronizadas pela Organização Mundial de Saúde – OMS:

  • duas formas transmissíveis, ativas (Tracoma Inflamatório Folicular – TF e Tracoma Inflamatório Intenso – TI);
  • três formas não transmissíveis (Tracoma Cicatricial – TS, Triquíase Tracomatosa – TT e Opacificação Corneana – CO) – formas sequelares, consequência de processos repetidos de infecção e cicatrização.

Um caso positivo de tracoma possui vínculo epidemiológico, está sempre associado a outro caso. Em áreas onde as infecções bacterianas secundárias são frequentes, aumentam os riscos de transmissibilidade e gravidade da doença.

O que causa o tracoma?

A causa do tracoma é a presença da bactéria C. trachomatis em contato com a conjuntiva ocular, que produz uma reação inflamatória difusa na pálpebra superior, com o aparecimento de folículos. Em áreas hiperendêmicas, em decorrência de infecções repetidas, os folículos, que são formações arredondadas, evoluem e quando regridem persistem cicatrizes nos locais afetados que evoluem para a formação de linhas de cicatrizes. Nem sempre haverá a formação de cicatrizes

As cicatrizes produzem deformidades que evoluem para a retração da pálpebra entrópio) e dos cílios (triquíase). Os cílios em posição defeituosa tocam a córnea e provocam abrasão crônica, opacidade da córnea, que promove a diminuição progressiva da visão. Caso não seja realizada a cirurgia para correção palpebral ou epilação destes cílios, o caso pode evoluir para baixa na acuidade visual até a cegueira.

  • Agente etiológico: bactéria gram-negativa Chlamydia trachomatis, de vida intracelular obrigatória, dos sorotipos A, B, Ba e C. Existem outros sorotipos de C. trachomatis infectantes para o homem, porém estão associados a conjuntivites de inclusão, doenças sexualmente transmissíveis e pneumonia em recém-nascidos.
  • Reservatório: O homem, com infecção ativa na conjuntiva ou outras mucosas. Crianças até 10 anos de idade, com infecção ativa, configuram o principal reservatório do agente etiológico, nas localidades onde o tracoma é endêmico.
  • Vetores: Alguns insetos, como a mosca doméstica (Musca domestica), e/ou a lambe-olhos (Hippelates sp e Liohippelates spp.), podem atuar como vetores mecânicos da bactéria.
IMPORTANTE: Não há reservatórios animais reconhecidos.

Quais são os sinais e sintomas do tracoma?

Em sua fase inicial o tracoma é uma doença endêmica nas crianças. A doença apresenta um curso crônico recidivante. Repetidas infeções em áreas hiperendêmicas produzem a formação de folículos e cicatrizes na conjuntiva palpebral superior. As cicatrizes na mucosa da pálpebra superior promovem mudanças na posição da pálpebra (entrópio) e alteração na posição dos cílios (triquíase), fazendo com que os cílios toquem o globo ocular. Os atritos dos cílios sobre o globo ocular causam escoriações na córnea que levam à opacificação e diminuição da acuidade visual até à cegueira.

Em geral, o indivíduo com tracoma apresenta os seguintes sinais e sintomas:

  • fotofobia (sensibilidade e intolerância à luz);
  • prurido (coceira nos olhos);
  • sensação de corpo estranho dentro do olho;
  • vermelhidão nos olhos;
  • secreção;
  • lacrimejamento.

Muitos casos de tracoma não apresentam nenhum sintoma. O período de incubação (período entre o momento da infecção e o surgimento dos sintomas) do tracoma dura de 5 a 12 dias e pode se apresentar inicialmente com a aparência de uma inflamação que afeta ambos os olhos.

Os pacientes que apresentam as formas sequelares do tracoma – entrópio (pálpebra com a margem virada para dentro do olho) e triquíase tracomatosa (cílios em posição defeituosa, tocando o globo ocular) manifestam dor constante, fotofobia e dificuldade de abrir os olhos.

IMPORTANTE: A maior ou menor gravidade da doença ocorre principalmente com a reincidência da doença em áreas com muitos casos de tracoma e pelas conjuntivites bacterianas associadas. Infecções bacterianas secundárias podem estar associadas ao quadro, contribuindo para a disseminação da doença.

Como é feito o diagnóstico do tracoma?

O diagnóstico do tracoma é essencialmente clínico e realizado por meio de exame ocular externo, utilizando lupa binocular de 2,5 vezes de aumento, onde buscam-se os sinais clínicos de presença de folículos e cicatrizes na conjuntiva palpebral superior e alterações na posição dos cílios.

O diagnóstico laboratorial deve ser utilizado para a constatação da circulação da bactéria causadora do tracoma na comunidade, e não para a confirmação de cada caso, individualmente

A técnica laboratorial padrão, para o diagnóstico das infecções por Chlamydia trachomatis,  é a cultura, porém não é utilizada como rotina nos laboratórios de saúde pública. No Brasil, a técnica de Imunofluorescência Direta foi realizada por vários anos. Atualmente encontra-se em fase de validação a técnica  de diagnóstico molecular de reação em cadeia da  polimerase- PCR, para Clamidia ocular.

Como é feito o tratamento do tracoma?

O tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde é o antibiótico Azitromicina na dose de 20mg por Kg de peso para crianças e para adultos acima de 45 kg , 1 grama, em dose única oral. O SUS disponibiliza tratamento gratuito de azitromicina nas apresentações em comprimidos de 500mg e suspensão de 600mg.

O objetivo do tratamento é a cura da infecção , interrupção da cadeia de transmissão da bactéria e diminuição da circulação do agente etiológico na comunidade, o que leva à redução da frequência das reinfecções e da gravidade dos casos.

Para impacto no controle do tracoma, faz-se necessário adoção de medidas de controle como o uso de antibióticos em massa de toda a população nas áreas hiperendêmicas e medidas de melhorias ambientais, de saneamento e educação em saúde.

Como o tracoma é transmitido?

Modo de transmissão: contato direto de pessoa a pessoa, ou indireto por meio de objetos contaminados (toalhas, lenços, fronhas etc). As moscas podem contribuir para a disseminação da doença, por transmissão mecânica. A transmissão só é possível na presença de lesões ativas.

A suscetibilidade à infecção por tracoma é universal, sendo as crianças as mais suscetíveis, inclusive às reinfecções. Não se observa imunidade natural ou adquirida à infecção por C. trachomatis.

Como prevenir o tracoma?

O tracoma está relacionado com as precárias condições socioeconômicas, de saneamento e com os determinantes sociais em saúde. Em países desenvolvidos, o controle da doença foi alcançado com melhoria das condições de vida e saneamento básico.

Nesse sentido, são fundamentais, para prevenir o tracoma, medidas de promoção da higiene pessoal e familiar, tais como a limpeza do rosto, o destino adequado do lixo, disponibilidade de água e destino adequado dos dejetos.

A prevenção do tracoma pode ser realizada com a adoção de hábitos adequados de higiene, como lavagem do rosto das crianças com frequência e não compartilhamento de objetos de uso pessoal como lenços, roupas e toalhas entre outros.

A busca ativa deve ocorrer em comunidades de risco epidemiológico e social, em escolas e creches, e de forma sistemática nos locais onde haja suspeita da ocorrência de casos de tracoma. Deve ser ressaltada a importância das medidas de educação em saúde, envolvendo pais, professores, funcionários e crianças para o sucesso das medidas de vigilância e controle do tracoma.

Não há necessidade de isolamento dos casos. Os indivíduos com tracoma devem receber tratamento e continuar a frequentar a instituição. O tracoma não é uma doença de notificação compulsória nacional, entretanto é uma doença sob vigilância epidemiológica de interesse nacional, por ser uma doença com metas de eliminação como problema de saúde pública, sendo orientado o registro de todos os casos positivos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Fonte: Ministério da Saúde