Atenção para as hepatites virais

Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF) – Rafael Bombein (CREF 016866/SP) – 19/08/2024

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No Estado de São Paulo, de acordo com a Secretaria de Saúde, houve uma redução de óbitos por hepatite, mas um aumento nos casos, entre 2022 e 2023. Foram 6.498 casos e 361 óbitos e 6.933 casos e 322 óbitos, respectivamente. Segundo Rosamar Eulira Fontes Rezende, médica da Divisão de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, esse aumento não é tão expressivo e pode ser que ainda seja um reflexo da pandemia, quando houve menos testagem e a população não procurava os serviços médicos. 

As mortes por hepatites virais estão aumentando em todo o mundo e esse conjunto de doenças já é a segunda principal causa infecciosa de óbitos no planeta, atrás apenas da tuberculose. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as taxas globais estão em cerca de 3,5 mil vítimas fatais por dia e 1,3 milhão por ano. A Dra. Cássia Mendes Correa, professora da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo analisa o crescimento no número de casos dessas enfermidades e discorre sobre os possíveis motivos para esse cenário.

Segundo a Dra. Cássia, a hepatite é um termo muito amplo, que significa adoecimento por processo inflamatório das células hepáticas, ou seja, do fígado. Ela conta que existem muitos agentes infecciosos diferentes que causam hepatites, mas, quando são discutidas as hepatites virais, geralmente o foco são os chamados vírus hepatotrópicos, os quais têm uma afinidade mais específica pelo fígado quando causam doenças. São considerados nessa categoria, os vírus das hepatites A, B, C, D e E.

De acordo com a docente, além desses vírus, outros agentes infecciosos virais e não virais também podem causar inflamação hepática. O consumo de álcool e de alguns medicamentos também pode acarretar o surgimento de hepatite aguda e crônica. “Os vírus das hepatites A, B, C, D e E são cinco agentes completamente distintos e cada um deles tem um comportamento epidemiológico diferente, não existe uma única causa para explicar o aumento de casos ou o tamanho da importância desses vírus”, explica.

Conforme a especialista, alguns desses vírus, como o da hepatite A, causam apenas uma doença aguda, na qual a infecção se desenvolve em poucas semanas e depois desaparece, sem deixar sequelas. Ela conta que em outros casos, como os provocados pelas hepatites B, C e D, além do quadro agudo, a inflamação também pode persistir por muito tempo e evoluir para a agressão do fígado, podendo levar ao surgimento de algumas complicações. 

“Essas doenças podem persistir por muitos anos, às vezes a vida inteira, evoluindo a agressão no fígado e provocando complicações crônicas extremamente graves, como o surgimento de cirrose hepática e carcinoma hepático, ou seja, do câncer de fígado. As hepatites virais, portanto, figuram entre as causas mais frequentes de transplantes hepáticos e representam importantes agravos em termos de saúde pública”, analisa a Dra. Cássia. 

Por serem agentes infecciosos distintos, sua transmissão é variada e depende de cada tipo viral. Dentre esses fatores, destacam-se o consumo de água e alimentos contaminados (hepatite A), relações sexuais desprotegidas (hepatite B, C, delta), contato com sangue contaminado (hepatite B, C, delta) ou de mãe para filho durante a gestação ou amamentação (mais frequente na hepatite B). Por essas razões, a disseminação dessas enfermidades é variada em todo o mundo, mas, de forma geral, é mais comum em países subdesenvolvidos e em populações mais vulneráveis, nas quais as condições de higiene e saneamento básico são escassas e o conhecimento dos métodos de prevenção é baixo.

De acordo com a Dra. Cássia, existem vacinas disponíveis para algumas dessas doenças, mas muitas pessoas não têm acesso a elas e aos tratamentos disponíveis. Ela explica que já foram desenvolvidas ótimas vacinas para as hepatites A e B, mas não existe imunização contra as hepatites C, D e a vacina contra a hepatite E ainda não apresenta resultados eficientes.

Conforme a professora, as infecções pelos vírus de hepatite B e C possuem tratamentos altamente eficazes e disponíveis, inclusive no Brasil, disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ela afirma, entretanto, que algumas regiões do País possuem falta de atendimento médico e dificuldade de acesso, por isso, os habitantes desses locais sequer descobrem que estão infectados e morrem antes de procurarem tratamento.

Referencias

https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/falta-de-notificacao-compromete-o-controle-de-casos-de-hepatite-no-brasil/#:~:text=No%20Estado%20de%20S%C3%A3o%20Paulo,casos%20e%20322%20%C3%B3bitos%2C%20respectivamente.

https://jornal.usp.br/radio-usp/falta-de-acesso-a-diagnostico-e-tratamento-causa-aumento-nos-casos-de-hepatites-virais-no-mundo/


Para saber mais

  • Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF); 30/06/2024;

https://institutoagf.com.br/julho-amarelo-dia-mundial-das-hepatites-virais

  • Boletim epidemiológico para casos de hepatite; publicado em 25/09/2023 Atualizado em: 29/09/202;

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/Alerta_HepatiteA_2023-09-29.pdf

  • Tipos de hepatites em 7 perguntas; O que é? Quantos tipos diferentes existem? O que fazer para prevenir? Convidados a dra. Lourianne Cavalcante, hepatologista, para responder as principais dúvidas sobre hepatites virais; Drauzio Varella; 7 de jul. de 2022;