Pré-diabetes – Você pode ter e não saber

Artigo escrito por Rafael Bombein (CREF – 016866/SP)  

O pré-diabetes surge quando o processamento da glicose (açúcar) pelo organismo não está sendo feito adequadamente. Em vez de servir como fonte de energia para as células, a glicose permanece circulando no sangue, fazendo com que o seu nível fique acima do normal.

De forma simples, podemos dizer que uma pessoa tem pré-diabetes quando a sua glicemia (nível de glicose no sangue) está acima do normal, mas ainda não é alta o suficiente para ser definida como diabetes.

A maior parte da glicose presente no nosso organismo vem dos alimentos que consumimos, mais especificamente dos alimentos que contêm carboidratos, tais como pão, massas, arroz, batata, doces, frutas, milho, farinha, bolos, etc.

Durante a digestão, o açúcar presente nos alimentos é absorvido no intestino e entra na corrente sanguínea. Assim que o organismo detecta uma elevação no nível da glicemia, o pâncreas passa a liberar um hormônio chamado insulina. A insulina age como uma chave que abre as portas das células para que a glicose possa ingressar. Sem insulina, a glicose não tem como penetrar nas células, e sem glicose, as células não conseguem funcionar adequadamente.

A entrada de glicose nas células faz com que a sua concentração no sangue caia. O nível de insulina no sangue é controlado de forma muito apurada. Se a glicemia se eleva, o nível de insulina também sobe; se a glicemia cai, a liberação de insulina pelo pâncreas também se reduz. Desta forma, a concentração de glicose no sangue é sempre mantida dentro de valores considerados adequados para o funcionamento do organismo.

Quando o indivíduo tem pré-diabetes, é porque o processo descrito acima está sendo realizado de forma inadequada. Habitualmente, dois mecanismos são os responsáveis:

  • O pâncreas deixa de ser capaz de produzir quantidades adequadas de insulina, fazendo com que parte da glicose se acumule no sangue.
  • As células se tornam resistentes à ação da insulina. A quantidade de insulina é adequada, mas ela não é eficiente na hora de facilitar a entrada da glicose nas células. Esse efeito é especialmente comum em pessoas com sobrepeso, pois o excesso de gordura está claramente associado a uma menor eficiência da insulina.

Quando o defeito em um dos dois mecanismos descritos acima é brando, o paciente desenvolve pré-diabetes; quando o defeito é grave, o paciente desenvolve diabetes mellitus.

SINTOMAS

O pré-diabetes não provoca sintoma algum. O nível de glicose ainda não é alto o suficiente para causar nenhum dos sintomas comuns do diabetes mellitus.

DIAGNÓSTICO

Os métodos laboratoriais para diagnosticar o pré-diabetes são os mesmos utilizados para o diagnóstico diabetes, o que mudam são apenas os valores.

GLICEMIA DE JEJUM

O método mais utilizado para o diagnóstico tanto do diabetes quanto do pré-diabetes é a chamada glicemia de jejum, que é a dosagem do nível de glicose no sangue após um jejum de pelo menos 8 horas.

  • O normal é ter uma glicemia de jejum de no máximo 99 mg/dl.
  • Indivíduos com glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dl em pelo menos duas dosagens distintas são considerados pré-diabéticos.
  • Indivíduos com glicemia de jejum igual ou acima de 126 mg/dl em pelo menos duas dosagens distintas são considerados diabéticos.

Dizer que o paciente tem uma glicemia de jejum alterada é outra forma de dizer que ele tem pré-diabetes.

HEMOGLOBINA GLICADA (HbA1C)

A hemoglobina glicada é um exame que avalia a quantidade de glicose presente na hemoglobina. Quanto maior for a glicemia ao longo do tempo, maior é o valor da hemoglobina glicada. Esse teste é muito útil, pois ele estima o valor médio da glicemia nos últimos 3 meses. Se a HbA1C vier alta, isso significa que a glicemia esteve descontrolada nos últimos 3 meses, no mínimo.

  • O normal é ter uma hemoglobina glicada abaixo de 5,7%.
  • Indivíduos com hemoglobina glicada entre 5,7% e 6,4% são considerados pré-diabéticos.
  • Indivíduos com hemoglobina glicada acima de 6,5% são considerados diabéticos.

TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL À GLICOSE (TTOG)

O teste de tolerância oral à glicose é um exame no qual o paciente dosa a sua glicemia em jejum e novamente 2 horas após beber uma solução rica em açúcar. Esse teste serve para ver como o organismo processa a glicose logo após a sua ingestão. Exceto nas grávidas, o TTOG é raramente usado para o diagnóstico do pré-diabetes ou do diabetes 

  • O normal é ter um teste de tolerância oral à glicose abaixo de 140 ml/dl.
  • Indivíduos com teste de tolerância oral à glicose entre 140 e 199 mg/dl são considerados pré-diabéticos.
  • Indivíduos com teste de tolerância oral à glicose acima de 200 mg/dl são considerados diabéticos.
  • Dizer que o paciente tem intolerância à glicose é outra forma de dizer que ele tem pré-diabetes.

FATORES DE RISCO

Como o pré-diabetes é basicamente um estágio antes do surgimento do diabetes mellitus, os seus fatores de risco acabam sendo praticamente os mesmos. Os mais importantes são:

  • Sobrepeso (IMC maior que 25 kg/m²). Quanto maior for o Indice de Massa Corporal (IMC), mais elevado é o risco; 

Para saber mais sobre o IMC acesse https://www.mdsaude.com/obesidade/calcule-o-seu-peso-ideal-e-imc/

  • Acúmulo de gordura na região abdominal (cintura maior que 102 cm nos homens ou maior que 88 cm nas mulheres).
  • Sedentarismo.
  • Idade acima de 45 anos.
  • História familiar de diabetes tipo 2.
  • História pessoal de diabetes gestacional.
  • Síndrome do ovário policístico.
  • Hipertensão arterial.
  • Colesterol elevado.
  • Tabagismo.
  • Apneia obstrutiva do sono.

EVOLUÇÃO PARA DIABETES

O pré-diabetes tem basicamente dois problemas. O primeiro é o fato dele estar habitualmente associado a outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, principalmente o sobrepeso e o colesterol elevado. O segundo, e mais importante, é o fato de o pré-diabetes ser um estágio logo antes do aparecimento do diabetes, sendo essa transição muito comum no período de poucos anos.

Se nada for feito, cerca de 1/3 dos pacientes com pré-diabetes irá progredir para diabetes no prazo de 3 a 5 anos. Se considerarmos apenas os indivíduos com múltiplos fatores de risco, a taxa de progressão é ainda mais alta.

O fato é que nem todo mundo com pré-diabetes irá obrigatoriamente evoluir para diabetes, mas praticamente todos os pacientes portadores de diabetes tipo 2 em algum momento da vida passaram pela fase de pré-diabetes.

Portanto, como o risco de progressão para o diabetes tipo 2 é bem alto e não há como saber de antemão que irá progredir ou não, medidas preventivas devem ser instituídas quanto antes possível.

TRATAMENTO

O tratamento do pré-diabetes é, na verdade, apenas um conjunto de medidas de prevenção contra o diabetes. O alvo é atacar os fatores de risco que podem ser modificados. Obviamente, ninguém pode fazer nada em relação à história familiar ou à própria idade, no entanto, muito pode ser feito em relação à dieta, ao tabagismo, ao sedentarismo e ao excesso de peso.

Todos os indivíduos com pré-diabetes devem ter como objetivo principal emagrecer e alcançar um IMC abaixo de 25 kg/m². Porém, mesmo perdas pequenas de peso, como algo em torno de 5% do peso corporal, já são suficientes para reduzir de forma relevante o valor da glicemia em jejum.

Outro fator importante é a prática regular de atividade física. O sedentarismo e o excesso de gordura diminuem a eficácia da insulina, enquanto o aumento da massa muscular e a prática regular de exercícios fazem o efeito contrário, tornando a insulina circulante no sangue mais eficaz.

O importante não é necessariamente a intensidade do exercício, mas sim a frequência com que ele é feito durante a semana. O ideal são 30 minutos de atividade, 5 vezes por semana, para haver efeitos relevantes, porém, mesmo uma frequência menor ainda é melhor do que o sedentarismo.

Quem é fumante deve largar o cigarro imediatamente. Não só o cigarro é responsável por uma extensa lista de doenças graves, como ele também aumenta o risco de diabetes em quase 40%.