Saiba mais sobre o Bruxismo

Artigo escrito por Rafael Bombein (CREF – 016866/SP)  | Ilustração: Ricardo C.Pretel

Bruxismo é um transtorno reconhecido pelo ato inconsciente de apertar ou ranger os dentes, normalmente durante o sono. Este comportamento, muitas vezes relacionado ao estresse ou ansiedade, coloca uma pressão excessiva sobre os músculos, tecidos e outras estruturas ao redor da mandíbula, levando ao desgaste prematuro dos dentes. Este desgaste pode, por sua vez, causar problemas que vão desde sensibilidade dentária e dor na mandíbula até a perda dos dentes; desta forma o bruxismo é definido como a atividade muscular involuntária, excessiva e repetitiva da mandíbula, caracterizada por cerrar ou ranger os dentes.

Por causa da força aplicada pela musculatura da mandíbula durante os episódios de bruxismo, a condição pode provocar dor de cabeça e causar sérios problemas para os dentes e mandíbula, exigindo tratamento para reduzir seu impacto.

O bruxismo é mais comum durante o sono, situação conhecida como bruxismo noturno ou bruxismo do sono. O ranger dos dentes que ocorre de forma involuntária quando o paciente se encontra acordado é bem menos comum, sendo chamado de bruxismo diurno.

O bruxismo noturno é considerado um distúrbio do sono. Pessoas com bruxismo noturno têm maior probabilidade de apresentar outros distúrbios do sono, como roncos, sonambulismo e apneia do sono (distúrbio que faz com que a respiração durante o sono seja superficial ou ocorra parada completa da respiração por alguns segundos ou minutos).

O bruxismo relacionado ao sono afeta de 15 a 40% das crianças e de 8 a 10% dos adultos.

As causas do bruxismo diurno ainda não estão bem esclarecidas, mas ele provavelmente ocorre como resposta a emoções, como ansiedade, estresse, raiva, frustração ou tensão. O ranger dos dentes também pode ser uma estratégia de enfrentamento de situações desconfortáveis ou desafiadoras, ou um cacoete que o paciente apresenta durante concentração profunda.

Já o bruxismo relacionado ao sono é provavelmente um fenômeno mediado pelo sistema nervoso central, relacionado a micro despertares do sono com ativação do sistema nervoso autônomo. Micro despertares são breves períodos de despertar durante o sono.

Quase todos os episódios de bruxismo noturno ocorrem durante micro despertares do sono e são precedidos por um padrão previsível de atividade autonômica, com elevação da frequência cardíaca, aumento do tônus da mandíbula e da musculatura orofaríngea, aumento do esforço respiratório e do fluxo de ar nasal, que são seguidos por um aumento na atividade muscular rítmica da mastigação nos músculos da mandíbula, produzindo o ranger os dentes.

Os principais fatores de risco para o bruxismo noturno são os distúrbios do sono, especialmente a apneia obstrutiva do sono e as parassonias, que são transtornos comportamentais que ocorrem durante o sono, tais como sonambulismo, terrores noturnos, urinar na cama, pesadelos, câimbras noturnas, etc.

FATORES DE RISCO PARA BRUXISMO 

  • Apneia obstrutiva do sono.
  • Parassonias.
  • Ronco pesado.
  • Ansiedade.
  • Circunstâncias de vida altamente estressantes.
  • Autismo.
  • Síndrome de Rett.
  • Doença de Alzheimer avançada.
  • Distúrbios psicóticos.
  • Doença do refluxo gastroesofágico.
  • Disfunção da articulação temporomandibular.
  • História familiar de bruxismo.

O bruxismo também pode ser desencadeado por uma variedade de fármacos ou drogas, sendo as principais:

  • Tabaco.
  • Cafeína.
  • Bebidas Alcoólicas.
  • Cocaína.
  • Ecstasy.
  • Anfetaminas.
  • Antipsicóticos.
  • Antidepressivos.

Apesar de ser uma informação bastante difundida na população em geral, o bruxismo não tem relação alguma com quadros de verminose. A confusão provavelmente se dá porque ambas as condições ocorrem mais frequentemente nas crianças. Mas não há nenhuma evidência de que bruxismo seja um dos sintomas de infecção por parasito intestinal.

Os principais sintomas do bruxismo são dores de cabeça, desconforto na mandíbula, especialmente na articulação temporomaxilar, dores nos músculos da face e nas orelhas, rigidez e dor dos ombros, limitação de abertura da boca e alterações do sono.

O bruxismo noturno se manifesta como contrações rítmicas dos músculos da mandíbula, aproximadamente uma por segundo durante os episódios noturnos.

Muitos pacientes não têm ciência do bruxismo, mas os pais ou parceiros de cama podem reclamar dos ruídos causados pelo ranger dos dentes ou estalidos nas articulações temporomandibulares.

A frequência do bruxismo varia de noite para noite e de semana para semana. Alguns pacientes podem relatar que os episódios de bruxismo, ou os sintomas associados ao bruxismo, aumentam com os níveis de estresse e ansiedade da vida.

RISCOS ASSOCIADOS AO BRUXISMO

O bruxismo costuma ser um quadro benigno sem consequências mais graves. No entanto, é importante destacar que, nos casos mais graves, a condição pode ter implicações sérias se não for adequadamente tratada.

ALGUNS DOS RISCOS ASSOCIADOS AO BRUXISMO 

  • DANOS AOS DENTES: o constante ranger e apertar dos dentes pode levar ao desgaste do esmalte dental, tornando os dentes mais suscetíveis a cáries e infecções. Em casos extremos, os dentes podem até ser quebrados ou fraturados.
  • PROBLEMAS NAS GENGIVAS: inflamação das gengivas, hipermobilidade e queda de dentes são outras consequências possíveis. Em casos graves, o bruxismo relacionado ao sono também pode causar lesões nos tecidos moles da boca (língua, lábios, bochechas).
  • PROBLEMAS NA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM): O bruxismo pode causar ou agravar problemas na ATM, causando dor e desconforto na mandíbula.
  • DORES DE CABEÇA: muitas pessoas com bruxismo experimentam dores de cabeça frequentes ou crônicas, muitas vezes parecidas com enxaquecas.
  • DISTÚRBIOS DO SONO: como referido no início do artigo, o bruxismo noturno pode levar a um sono de baixa qualidade e a condições como roncos, sonambulismo e apneia do sono.

TRATAMENTO

Boa parte dos indivíduos com bruxismo noturno não requer nenhum tratamento específico. O bruxismo ocasional é comum, principalmente durante a infância, frequentemente é assintomático, não provoca complicações e desaparece com o tempo.

Quando há necessidade de tratamento, as opções incluem modificações comportamentais, dispositivos orais para proteger os dentes, como aparelhos ou placas, e medicamentos apropriados.

Indivíduos com bruxismo relacionado ao sono devem receber atendimento odontológico de rotina para monitorar o desgaste dentário e intervir quando necessário. Dentes excessivamente desgastados podem exigir procedimentos de restauração dentária.

Os dentistas são os profissionais indicados para fazer o tratamento do bruxismo.

DÚVIDAS COMUNS SOBRE O BRUXISMO

O bruxismo diurno ocorre quando a pessoa está acordada, muitas vezes em situações de estresse ou concentração intensa. O bruxismo noturno ocorre durante o sono e é muitas vezes associado a distúrbios do sono, como apneia do sono. Ambos podem causar desgaste dos dentes e dor, mas o bruxismo noturno é mais difícil de controlar porque ocorre inconscientemente durante o sono.

Estudos sugerem que o bruxismo pode ter um componente hereditário, especialmente o bruxismo do sono. Se um dos pais tem bruxismo, seus filhos têm maior probabilidade de desenvolver a condição.

Sim, alguns estudos sugerem que a cafeína e o álcool podem aumentar o risco de bruxismo.

Alguns estudos sugerem que técnicas de relaxamento, como meditação e ioga, podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade que podem levar ao bruxismo. Além disso, manter uma rotina regular de sono e evitar estimulantes como cafeína e álcool perto da hora de dormir também pode ajudar.

Sim, o bruxismo crônico não tratado pode levar a dores de cabeça crônicas, distúrbios do sono e, em alguns casos, pode contribuir para transtornos da articulação temporomandibular. Além disso, o estresse, a ansiedade e a falta de sono adequado muitas vezes associados ao bruxismo também podem ter efeitos negativos na saúde em geral.

Não, o bruxismo não é um sinal de verminose. Isso é mito.

A história natural do bruxismo não é totalmente conhecida, mas seu curso é geralmente benigno. Embora o bruxismo iniciado na infância geralmente persista na idade adulta, os episódios podem ser pouco frequentes ou permanecer assintomáticos durante a maior parte da vida. Alguns indivíduos relatam piora episódica do bruxismo relacionado ao sono ao longo da vida em relação ao estresse ou ansiedade; no entanto, a maioria dos estudos indica que a prevalência diminui progressivamente com o passar dos anos.