Síndrome do jaleco branco

Artigo escrito por Rafael Bombein (CREF – 016866/SP) e editado pelo jornalista Fábio Busian (MTB 81800)

Também conhecido como hipertensão do jaleco branco, é o medo irracional que algumas pessoas têm quando precisam consultar um médico. 

Trata-se de um transtorno psicológico classificado na categoria de fobia. 

Como tal, a reação da pessoa é desproporcional à situação em si. Seu medo é tão grande que ela não consegue sequer controlar o seu próprio corpo.

Um estudo conduzido pelo médico Stanley Franklin, especialista em doenças cardiovasculares e professor da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, estima que uma em cada cinco pessoas sofre com os sintomas da Síndrome do Jaleco Branco.

Mesmo que a pessoa saiba que o médico não representa perigo algum, ela sofre com crises de ansiedade e outros sintomas cada vez que precisa encontrá-lo. 

Existem diversos elementos que podem ser gatilhos para desencadear os sintomas. Eles podem ser a própria figura do médico ou enfermeiro, mas também instrumentos, objetos e ambientes que remetem ao atendimento.

É difícil estabelecer uma causa específica para a síndrome, pois ela pode surgir devido a um conjunto de fatores. 

Geralmente, as causas envolvem eventos traumáticos no passado do paciente que estão relacionados com o atendimento médico. 

As fobias costumam persistir ao longo do tempo quando os traumas ocorrem na infância. No entanto, elas também podem começar em pessoas no início da vida adulta.

Alguns dos eventos que podem desencadear a síndrome do jaleco branco incluem:

  • Notícias de sérios problemas sobre sua saúde ou de pessoas próximas;
  • Perda de um familiar em um ambiente hospitalar;
  • Intervenções mal-sucedidas;
  • Erros na administração de medicamentos;
  • Experiência de erro médico, como esquecimento de material dentro do corpo.

Além das vivências negativas no atendimento médico, existem outras causas que podem contribuir para o surgimento da síndrome.

Entre elas, podemos citar o fator cultural. Ou seja, o sensacionalismo da mídia ao divulgar notícias sobre más práticas e falhas médicas.

Desse modo, o contato com histórias de outras pessoas, sejam elas próximas do paciente ou não, podem se somatizar até gerar a fobia.

Outra causa específica ocorre com as pessoas dependentes de substâncias químicas. 

Neste caso, a resistência em abandonar o vício e a identificação do médico como uma figura de autoridade podem ser fatores para o surgimento do transtorno.

O principal sintoma da síndrome do jaleco branco é a hipertensão pontual; ou seja, o paciente apresenta o aumento da pressão arterial apenas quando está na presença de um profissional da saúde ou em um ambiente médico. Já ao medir a pressão em casa, ele obtém uma leitura normal.

Os demais sintomas são os mesmos que as pessoas com fobias geralmente sofrem. Eles incluem reações físicas e psicológicas como:

  • Tremores;
  • Tontura;
  • Náuseas e ânsia de vômito;
  • Tensão muscular;
  • Suor frio;
  • Ansiedade;
  • Agitação;
  • Ataques de pânico.

Eles aparecem durante a consulta, mas logo diminuem após a pessoa se retirar do local.

O principal modo para identificar a síndrome do jaleco branco é fazendo a medição da pressão arterial durante a consulta e compará-la com o valor obtido na casa do paciente. 

Assim, se o paciente apresentar um valor maior que 140/ 90 mmHg na consulta, mas na leitura em casa obtiver valores normais, é muito provável que ele sofra da síndrome.

Para ter certeza do diagnóstico, é preciso fazer estas medições no mínimo 3 (três) vezes seguidas com o mesmo resultado.

Há algumas ferramentas que podem ajudar neste processo. Por exemplo, a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) oferece uma visão mais profunda sobre o quadro clínico do paciente; nela, o médico instala um aparelho no braço do paciente, que faz medições a cada 15 minutos durante 24h, desse modo, o médico pode saber como a pressão do paciente se comporta em diversos ambientes da clínica ou hospital.

Apesar dos sintomas serem restritos a uma situação em específico, a síndrome do jaleco branco pode desencadear uma série de problemas no paciente.

Em alguns casos, ele sente tanto medo que evita buscar o atendimento médico. 

Logo, os cuidados com sua saúde ficam comprometidos, pois se torna impossível receber um diagnóstico precoce – que é fundamental para o sucesso do tratamento.

A pessoa adia a consulta até onde consegue suportar. Isto, é claro, leva ao agravamento da doença que o paciente esteja sofrendo. 

Além disso, as pessoas com síndrome do jaleco branco podem desenvolver um quadro de hipocondria. Ou seja, elas associam o medo de ir ao médico a ficar doente. E assim, começam a pensar que qualquer reação em seu corpo é o sintoma de uma doença.

O tratamento da síndrome do jaleco branco pode variar de acordo com a intensidade dos sintomas do paciente. No entanto, o mais recomendado consultar um psicólogo; este profissional vai investigar junto ao paciente as causas do problema para iniciar a terapia mais adequada. 


Referencias
https://pebmed.com.br/sindrome-do-jaleco-branco-identificacao-e-amenizacao-dos-efeitos/
https://feegowclinic.com.br/sindrome-do-jaleco-branco-blog/#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20s%C3%ADndrome%20do,desproporcional%20%C3%A0%20situa%C3%A7%C3%A3o%20em%20si.
Para saber mais ouça aqui a entrevista do professor e médico Luiz Vicente Figueira de Mello, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, concedida a Rádio USP;
https://jornal.usp.br/atualidades/sindrome-do-jaleco-branco-dificulta-a-vida-de-quem-necessita-ir-ao-medico/